O PT muda ou acaba?

A entrevista de Marta Suplicy ao Estado escancarou contradições do partido que inicia seu quarto mandato à frente do poder federal em meio a crises e sob denúncias de corrupção. O 'Aliás' convidou 4 intelectuais para analisar o diagnóstico da ex-ministra

PUBLICIDADE

Por Monica Manir e Ivan Marsiglia
14 min de leitura
José Arthur Giannotti Foto: PAULO LIEBERT/ESTADÃO

José Arthur Giannotti, professor de Filosofia da Universidade de São Paulo e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP)

Para que hoje se entenda o partido, é preciso lembrar que ele nasceu basicamente de três linhas: uma sindical, outra religiosa e outra intelectual. 

No caminhar a linha intelectual implodiu, na medida em que aquela unidade de pensamento socialista também se esfarelou. Boa parte dos que seriam petistas na reunião do Sion em que eu estava hoje estariam no PSOL ou em algum outro tipo de agremiação... não diria mais de esquerda, diria mais lunática. A área religiosa se enfraqueceu na medida em que a própria Igreja Católica está sendo comida pelos pentecostais e tem d’autres chats à fouetter, outros afazeres. A ala sindical, que predominou, passou por um processo normal que afeta os sindicalistas quando chegam ao poder: eles vão se apropriando dos instrumentos do poder e enricando com eles. Foram se corrompendo ano a ano. Nem sempre é a corrupção individual de cada um de seus membros, mas aquela que os militantes praticam em nome do Partido que é ‘a voz da História’. O (ex-ministro) Gilberto Carvalho pode se inflamar dizendo que não é ladrão, que não tem bens pessoais - e acredito nisso pia e fraternalmente -, mas lhe cabe explicar o processo de filtragem do dinheiro público que já começa com Celso Daniel na gestão na prefeitura de Santo André. 

À medida que o PT chega ao poder, e já através de alianças estranhas do ponto de vista ideológico, ele as amplia fechando com as velhas lideranças do coronelismo brasileiro. Veja bem: a mesma aliança foi feita por FHC, mas no final do processo os coronéis estavam bem mais fracos. No fim do mandato Lula, o poder dos coronéis estava recauchutado. Com o sucesso de seus programas sociais, o PT muda de base e finca pé nos antigos grotões que passaram a participar desta nossa pobre sociedade de consumo. 

Dilma 2 tenta se afastar dessa ‘direita’ sem ideologia. Projeta voltar a uma política de crescimento arrumando a casa, cerca-se de petistas de sua confiança, mas até agora não se sabe se terá força política para tal. Arma o trio que vai gerir a nova economia, mas até agora não construiu as bases políticas que possam sustentá-lo. 

A disputa está aberta entre aqueles que acreditam ser possível criar crescimento simplesmente aumentando a oferta e aqueles que, mais cientes dos traços do novo capitalismo contemporâneo, acreditam que não há crescimento sem a transformação de nossa base tecnológica. Como aquela que está acontecendo hoje nos EUA. Precisamos de um plano de longa duração, reformando a infraestrutura, ao menos bloqueando a decadência das grandes cidades e, sobretudo, reformulando o sistema de ensino e expandindo os sistemas de pesquisa. As universidades burocratizadas não dão conta desse recado. O lema ‘Brasil, Pátria educadora’ indica a estreiteza do diagnóstico. Reforçar a educação segundo os velhos padrões é educar para o atraso. Ainda estamos à espera da transformação técnico-científica que possa assegurar papel relevante do País no mundo futuro. Não é à toa que uma pessoa honrada, mas que não entende nada disso, Aldo Rebelo, foi posta no Ministério da Ciência e Tecnologia. O jogo distributivo das alianças prevaleceu sobre os critérios técnicos e o projeto de nação. 

Continua após a publicidade

O partido, de um lado, se corrompeu infiltrando sua burocracia na burocracia estatal, com prejuízo das duas. E, de outro, não tem perspectivas de como deve atuar no capitalismo contemporâneo. Não só se ajustou ao presidencialismo de coalizão, mas se tornou uma das forças que o sustenta. Nessas condições tem pouca eficácia clamar pelo retorno às origens quando lhe falta uma visão mais ampla e adequada do que significa uma luta pela igualdade nas condições em que continua a operar um novíssimo capitalismo contemporâneo. Sem isso, não teremos riqueza para distribuir, nem capacidade de pensar os males que o capitalismo necessariamente provoca. 

Sobre o diagnóstico da Marta, é difícil avaliar toda sua extensão. Vai depender de como se desenvolverá a crise larvar que é o próprio governo Dilma, de como o jogo político brasileiro vai se armar deixando espaço para que o PT tenha um comportamento político mais unificado. Está em curso uma operação saneadora, promovida sobretudo pelo MP, mas tendo grande apoio da população, muito semelhante àquela das Mãos Limpas que ocorreu na Itália e desmanchou seu sistema político. A bomba da Petrobrás ainda não se esgotou. Até que ponto as denúncias e as sentenças afetarão nosso sistema político como um todo? Outros membros do PT deverão ser sacrificados?

Este é um governo em crise política, que também se mantém em guerrilha com o Congresso. Sob Lula essa relação funcionava melhor porque ele tem uma notável inteligência política e operava numa situação econômica extremamente favorável. O problema é que não vejo hoje, nem mesmo entre os intelectuais brasileiros, uma visão mais clara sobre a crise política e econômica em que estamos mergulhados. Como se organizarão as oposições? Como a população reagirá a tudo isso? Diante do tamanho desse desafio, como vai se estabilizar a luta de poder dentro do próprio PT? Quem dará as cartas? Os lulistas? Dilmistas? Martistas? Mas o jogo já não está viciado?

Jairo Nicolau Foto: Fábio Motta/Agência Estado

Jairo Nicolau, cientista político, é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

O PT faz 35 anos e isso não é pouco na nossa história republicana. Tirando os partidos políticos da Primeira República, que duraram quase 40 anos, mas com feições diferentes, já temos instituições longas para o padrão brasileiro. Ele é a organização partidária mais diferenciada que o País já teve. Quando nasceu, esta era a leitura que os próprios membros faziam de si mesmos: ‘Somos diferentes de tudo que tem aí, quebramos um padrão de se fazer política’. Essa fase do início da década de 1980 é muito celebrada, de maneira romântica, porque ele não dependia das estruturas estatais como hoje. Era uma agremiação de voluntários, com um processo de deliberação mais de baixo para cima. 

Esse partido acabou, e passou por dois processos de inflexão - um interno e outro externo. O interno, de moderação do discurso tendo em vista a chegada à Presidência da República, veio com a expulsão das correntes mais de esquerda e o estabelecimento de uma aliança em 2002 com um partido fora do campo de esquerda, o PL. Mas há o externo, que talvez seja um pouco subestimado pelos analistas: o PT sofreu grande influência de fora para dentro com a mudança da Lei de Partidos, em 1995. Ela transformou completamente a forma de organização dos partidos no Brasil, com a criação do fundo partidário - que poucos anos depois já era a principal fonte de recursos do PT, em detrimento dos dízimos pagos pelos militantes e dirigentes na primeira fase. Entra também o Horário Eleitoral Gratuito. Foi quando nossos partidos passaram a ser mais regulados pelo Estado; a lei puxou sua organização do âmbito da sociedade para o do Estado e os colocou mais dependentes de recursos estatais. Nesse contexto entram também as decisões do TSE, desde o alinhamento das coligações em todos os níveis até as restrições recentes às trocas de legenda. Quando as pessoas olham o PT hoje e dizem que ele virou ‘uma máquina’, basicamente um partido de funcionários e de gente que vive da política, se esquecem que parte disso se deve a esse processo exógeno, que afetou o sistema todo. 

Continua após a publicidade

O PT ficou mais parecido com as outras organizações. Os partidos hoje no Brasil estão se tornando instituições paraestatais, não só porque recebem dinheiro e tempo de TV, mas também porque não conheço outro país no mundo em que as listas de filiados sejam controladas pelo TSE, a criação de partidos dependa da chancela de um burocrata, ou o Supremo decida se alguém pode ou não trocar de legenda. Apesar dessa peculiaridade, a tendência é mundial, com o declínio da imagem dos partidos e a opção da sociedade pela militância em outras formas de organização.

Entrando na questão da ex-ministra Marta Suplicy, o fato de o PT governar o País há 12 anos - indo para 16 - torna praticamente impossível o partido se desvencilhar do fato de ser governo. Mesmo que em seus congressos e documentos internos até tente se posicionar de maneira autônoma. Vivemos uma ‘era do PT’ nas duas últimas décadas: mesmo quando ainda não era governo, o PT de alguma forma organizou a vida política brasileira. E acho que o partido vai viver esses dilemas internos, com disputas entre correntes e lideranças, talvez até mais aguçadas. Entretanto, como o partido é muito grande e organizado, tendo a achar que a tensão que a Marta denuncia entre Lula e Dilma tem caráter pontual, de um certo momento da campanha em que a candidatura apresentava dificuldades. Eu não daria tanto peso a essa interpretação.

O grande desafio que o PT vai viver é no momento que voltar a ser partido no sentido clássico, pois agora ele é partido-governo. Boa parte de seus dirigentes está longe do partido, ocupando cargos de confiança em secretarias e ministérios. Então, o desafio virá quando ele perder a eleição presidencial, for para a oposição e decidir como vai defender seu legado político no governo. 

A referência, inevitavelmente, vai ser a das políticas sociais, de distribuição de renda. Não por acaso, um trabalho que acabo de apresentar em Portugal mostra que nenhum candidato a presidente no Brasil recebeu apoio tão maciço do eleitorado pobre quanto Dilma Rousseff. A votação da atual presidente nos 20% dos municípios mais pobres do Brasil chegou numa mediana de 67% do voto total, inclusive brancos e nulos. É um apoio que nem Lula teve. E um patrimônio que o partido conseguiu construir, soube comunicar enquanto governo e explorar durante a campanha - às vezes com um discurso forte não só de persuasão, mas de ameaça, de que as pessoas iriam perder aquilo que conquistaram com uma eventual vitória da oposição.

Maria Celina D'Araujo Foto: Fábio Motta/Agência Estado

Maria Celina D'Araujo é cientista política, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ)

Não acho que o PT muda nem que acaba. Vai continuar a existir da mesma maneira porque é a maneira que tem dado certo. Ficar 12 anos no poder e ir para 16 é mais que uma aventura: é uma trajetória vitoriosa. O PT não é um partido de quadros como o PSDB, que tem os notáveis, intelectuais e tal. Também não é um partido municipalista como o PMDB. Surgiu de uma base urbana, com a concepção de um colegiado igualitário. Criou-se uma cultura política no PT de que as disputas são legítimas, de que os companheiros podem soltar fogo amigo, de que se pode fazer estelionato eleitoral se ganhar a eleição. Mas ele é, principalmente, um partido de companheiros no sentido de que se julgam iguais. Então as tensões são muito grandes porque vários se acham em condições de concorrer à Presidência da República ou à Prefeitura de São Paulo, e acham que têm legitimidade para tal. É um partido com tamanha intimidade entre os pares que isso permite tanto apoios quanto brigas. O PT é sempre um espaço de disputa. 

Continua após a publicidade

E tem um ponto de unidade, que é o Lula, o único com luz própria no PT. A Dilma não é PT. Ela é a presidente escolhida pelo partido, mas não é uma petista histórica nem tem a cultura de conversar com os companheiros. Está muito isolada no poder. Ela é PT na medida em que não se desvincula da figura de Lula, este sim o líder carismático que sabe mobilizar, que tem uma química especial com seu eleitorado. Mas não basta ter carisma: é preciso alimentá-lo com boas políticas, boas falas, bons programas de governo. O carisma não é uma orquídea que vive de ar e sombra. Precisa estar em ação. Alguns líderes carismáticos acabaram no ostracismo. Brizola foi a grande figura dos anos 1960, teve uma vitória mais fabulosa ainda na ditadura, em 1982, quando foi eleito governador do Rio de Janeiro com tudo e todos contra. O que era isso? Era o carisma. Isso acabou porque, nos dois governos dele, não foi bem-sucedido em vários aspectos. 

Lula é o norte do PT, mas nada garante que isso seja assim daqui a quatro anos. Depende de como for o governo, de quanto ele está disposto a se expor sem se incompatibilizar com Dilma. Ele tem esse problema ético porque, veja bem, Dilma foi feita candidata por ele. Se Lula sair atirando contra ela, mesmo que seja fogo amigo, isso tira inclusive sua credibilidade. E há outro problema neste momento: grande parte do PT já está acomodada nos aparelhos do Estado. Quem vai querer ficar do lado de Lula para desconstruir o governo de Dilma, mesmo que seja de forma amigável? Acho que permanece tudo como antes no quartel de Abrantes. 

Enfim, o partido está ficando cada vez mais um partido normal brasileiro, um partido de cargos eleitorais, que luta por postos, que diz uma coisa e faz outra, porque o importante é ganhar a eleição. Isso não é novo. Quem militou no movimento estudantil sabe como a esquerda ganhava as eleições nos diretórios. E não é exclusivo do PT nem do Brasil. Os ciclos eleitorais valem para qualquer partido e para qualquer país. No último ano de governo se gasta muito e no primeiro ano se chamam os melhores tesoureiros, no sentido de quem tem a tesoura, para consertar as coisas.

Comparativamente aos demais partidos brasileiros, no entanto, esse é um partido de militantes. Mas não se compara ao que foi no início. Hoje grande parte de uma classe média intelectualizada não se sente com ímpeto para vestir a camisa do PT e ir pra rua suar. Surgiram outros partidos de esquerda, como o PSOL, aqui no Rio de Janeiro.

Se o PT está isolado? Do ponto de vista dos deputados federais, ele desidratou. Em termos de governos estaduais, idem. Isso significa que o eleitorado está menos propenso a votar nessa entidade PT. Mas isso não quer dizer que ele esteja isolado. Está muito bem, é o maior partido do Congresso, tem um diálogo imenso com os demais. Dos 28 que estão na câmara, 22 fecham com ele. Por que estão com o governo, mesmo não sendo muito leais? Porque é um jogo de cooperação, às vezes de propósitos não muito louváveis, O preço dessa integração é que é o problema. O preço é ficar refém de políticos que não somam para o projeto do PT nem para sua imagem.

Porque o PT tem um projeto, para ser diferente dos outros, que é manter políticas sociais de distribuição da renda bastante visíveis. Faz disso seu primeiro item da agenda e insiste em inovar em políticas sociais. Isso gerou por muito tempo uma empatia muito grande com a sociedade - e ainda acabou reelegendo Dilma. É o projeto de cultivar a identidade de quem se preocupa com a distribuição de renda, como se ele fosse o primeiro e o único. Está conseguindo manter esse discurso - simplesmente porque os outros partidos são incompetentes para mostrar que não foi bem assim.

Francisco Foot Hardman Foto: Marcos de Paula/Agência Estado

Continua após a publicidade

Francisco Foot Hardman é historiador e professor de Teoria e História Literária da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

O Partido dos Trabalhadores, fundado em 1980 a partir de movimentos sociais diversos e de oposição à ditadura militar enfraquecida, porém vigente, com o sindicalismo à frente, mas também outros tantos movimentos como o da Teologia da Libertação, das comunidades eclesiais de base, de universitários, intelectuais, jornalistas e tantas outras forças, um verdadeiro caldo de diferentes culturas e de tradições, por isso mesmo extremamente rico... enfim, esse partido, com essas características, já acabou. Estou completamente convencido de que, de muito tempo para cá, esse partido não existe mais. Está muito enfraquecido como representação de fato. Nessa função, está completamente combalido.

Mas existe, sim, uma sigla poderosa, uma máquina político-burocrática eleitoral de completa eficácia no controle de certas estruturas do poder estatal. Em primeiro lugar, como não poderia deixar de ser, de extrema atuação na instância federal, e já lá se vão 12 anos para 16. Mas o PT também age em instâncias estaduais, hoje muito debilitado em algumas regiões, como no Estado de São Paulo, no qual está em frangalhos. Ao mesmo tempo tem prefeituras importantíssimas, entre elas a da principal cidade do país. 

Basicamente, é essa máquina que tem de ser devidamente azeitada para se perpetuar no controle dessas estruturas do poder institucional. Esse controle passa pelo financiamento da campanha - ninguém precisa falar da necessidade urgente urgentíssima da reforma política, decantada em prosa e verso há décadas, mas que não sai do papel. Passa também pelas regras da propaganda política, que oferece tempos absolutamente desiguais na mídia eletrônica. A última campanha eleitoral foi notável em mostrar que quem tem 12 minutos de propaganda contra aquele quem tem 3 ou 2 sai com uma vantagem assustadora. A rigor, a reprodução desse poder é parte de uma estrutura que vem da sociedade do espetáculo. Não à toa boa parte dessas campanhas se tornou o desenvolvimento de um teatro da melhor publicidade.

Não acho que o PT seja formado por um bando de pessoas incompetentes ou desonestas. Existem pessoas da mais alta competência e respeitabilidade dentro do PT. Mas, lamentavelmente, na sua prática política efetiva, ele cada vez mais se iguala aos PMDBs, aos PRs, às siglas de aluguel, ao fisiologismo reinante. Acho até importante perguntar: o partido que detém a hegemonia dessa aliança de amplíssimo espectro e duvidosa eficácia é o PT ou o PMDB? Veja a incapacidade de, sendo um partido governista, o PT entabular uma candidatura à presidência da Câmara com chance real de sair vitoriosa. 

Lula é, sem sombra de dúvida, aquele ex-líder histórico da classe operária brasileira, talvez o maior produzido na história dos movimentos sociais do Brasil no século 20. Mas hoje se aproxima muito mais da figura de um líder populista com características caudilhescas tão comuns e tão lamentáveis na América Latina contemporânea. De alguma maneira o PT passou a ser dependente desse mito, dessa liderança, que se tornou também uma liderança tradicional. Me deixou entristecido ver Lula, ao final do mandato, voltar a São Bernardo tendo ao lado José Sarney, que, de alguma maneira, estava ali para afiançar sua trajetória. Marcava simbolicamente um final de dupla gestão melancólico, sendo necessário contar com o abraço daquele que talvez mais represente o velho caudilhismo oligárquico na política brasileira. 

Não adianta dizer que uma coisa é o PT pré-poder e outra é o depois do poder. Ok, existe uma tendência à burocratização dos partidos que surgiram como oposição, como partidos de esquerda, mas essa crise é profunda já nos mecanismos internos de democracia e decisão. Há quanto tempo um setor bastante respeitável do partido chamou para a necessidade de ele se refundar? Parecem vozes no deserto, caem no vazio.

Continua após a publicidade

Já o antipetismo é algo complexo. Responde a uma decepção quanto aos rumos tortuosos do partido, mas é fruto, sim, da chamada conciliação conservadora das classes dominantes. Ele se localizou na região mais rica do País, sobretudo em São Paulo, e depois no Centro-Oeste, numa área do agronegócio, mais emergente, mais pujante, mais próspera. No caso de São Paulo, há o que chamo de uma ideologia paulista que sempre esteve mais propensa à política com certo fundamento liberal, mas altamente excludente do ponto de vista social. O antipetismo diz respeito a uma cristalização de preconceitos antipopulares que existem na sociedade brasileira.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.