Rosanne o quê?

A jovem atriz já é chamada de a nova musa do Brasil. E não quer deixar o sobrenome atrapalhar

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Por Flavia Tavares
Atualização:

Vamos combinar que o trocadilho pode vir à mente: a pupila do senhor reitor. Mas ela não é pupila, é filha. Em todo caso, tanto um quanto outro nunca estiveram tão em evidência. O senhor reitor porque, depois de denúncias de que teria gastado quase R$ 470 mil dos cofres públicos para decorar seu apartamento funcional e de uma invasão de estudantes em sua reitoria, renunciou ao cargo na Universidade de Brasília, UnB. A filha porque, aos 27 anos e com 9 filmes no currículo, já vem sendo chamada de "a nova musa do cinema nacional". Rosanne Mulholland, ao contrário do pai, Timothy, só tem recebido elogios por seu trabalho. Na sexta-feira, estreou o mais recente, Falsa Loura, de Carlos Reichenbach. Uma noção do furor que sua personagem e atuação no filme causaram: o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília, ano passado, foi para Alessandra Negrini, por Cleópatra, de Julio Bressane. Sob vaias. Rosanne, a outra indicada, era a favorita do público e mais tarde chorou no colo da mãe por ter sido preterida. Mas superou. Neste ano, estrela outros três filmes, protagoniza a nova novela da TV Bandeirantes e começa a rodar um outro longa, em novembro. Rosanne é realmente muito meiga. Sabe aquela menina meiga? É, está difícil encontrar outro adjetivo. Ela é bonita, tem a voz suave, a pele perfeita, o nariz arrebitado, é um prato cheio para as revistas femininas. No discurso e na aparência, não aparenta a idade que tem. Poderia ter uns 21, no máximo. Não usa drogas, é bem família, quem trabalha com ela a considera extremamente profissional, nunca se envolveu em piquetes - nem nos tempos de faculdade. Namora firme, é caseira... é uma moça normal. Não fosse pelos filmes que fez, em que sempre interpreta papéis com uma pitada de "dark", talvez ainda não recebesse o tal título de musa. Mas o fato é que sua força na tela parece transcender essa meiguice toda. Ela já foi até homenageada pelo "conjunto da obra", este ano, no Festival de Tiradentes. À vida da "pupila", baseada em sua obra. 'A concepção' Foi o primeiro longa-metragem de repercussão da atriz, sob a direção de seu amigo e conterrâneo, o brasiliense José Eduardo Belmonte. Ela já havia trabalhado com ele antes, em um curta, e fazendo propagandas de faculdades e shoppings para a TV. Não vamos entrar nos detalhes da concepção de Rosanne, claro, mas podemos falar de seu nascimento. Foi num 31 de dezembro, às 22h20, em Brasília. O último dia de 1980. "É legal nascer com fogos de artifício, né?" Primogênita, a menina cresceu numa casa no Lago Norte, com quintal e piscina. Tinha uma mangueira que ela teimava em escalar. Aos 9 anos, pediu pra mãe procurar um curso de teatro. Finalmente, aos 12, encontrou um e não largou mais. No filme, de 2005, Rosanne interpreta Liz, uma garota meio doidona que se envolve em orgias e uso de drogas. As cenas mais picantes e pesadas sacudiram os pais, acostumados com aquela carinha de anjo. "Quando a sessão terminou, eu tremia na cadeira, com vergonha. Mas eles foram muito compreensivos, apesar do choque." 'Araguaya - a conspiração do silêncio' O filme de Ronaldo Duque foi o début de Rosanne nas telonas, em 2004. O papel de Criméia Alice, uma guerrilheira, exigiu da garota treinamento militar no meio da floresta amazônica. Na época, ela estava cursando Psicologia no Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), faculdade particular, para a qual, inclusive, já tinha feito comerciais. Apesar de ter escolhido o mesmo curso do pai, grande especialista em Psicologia Cognitiva, jura que foi só uma maneira de fugir das exatas. Era também um plano B, para o caso de a carreira artística não dar certo. De guerrilheira, Rosanne não tem nada. Os pais não têm histórico de luta contra a ditadura, a filha nunca se meteu em protestos ou contendas. "Acho que pra uma pessoa entrar em um movimento, qualquer que seja ele, tem que estudar muito bem o contexto em que tudo está acontecendo. Além disso, o movimento tem que apresentar propostas consistentes. Uma pessoa que considera tudo isso tem o meu respeito. Agora, entrar sem consciência é uma irresponsabilidade." É o mais perto que ela chega de comentar os protestos dos estudantes da UnB contra Timothy Mulholland. 'O magnata' Não confundir com o "magnífico", tratamento dispensado a reitores. O filme de 2007, dirigido por Johnny Araújo, e no qual Rosanne é Dri, não desperta grandes paixões na atriz. Pelo menos, ela não se empolga tanto para falar dele como fez quando perguntada sobre os outros, quando abria sorrisos generosos e contava os roteiros com entusiasmo. Cabe contar neste capítulo que, em 2004, Rosanne se mudou para o Rio de Janeiro, para fazer a Oficina de Atores da Globo. Morava sozinha, contava com a ajuda financeira dos pais e fazia muitos testes. E que, se no filme ela namora uma estrela do rock, interpretada por Paulo Vilhena, na vida real, ela também namora um músico, baterista, com quem mora num apartamento de três quartos, no Leblon. 'Nome próprio' A mãe de Rosanne é Lurdisceia. O namorado, Kelder. O irmão mais novo, formado em engenharia ambiental, pediu para que ela parasse de falar seu nome nas entrevistas. O Rosanne não teve nenhuma inspiração especial. O Mulholland vem do pai, que nasceu nos Estados Unidos, descende de irlandeses. Este sobrenome fez Rosanne penar a vida toda. Na formatura da pré-escola, quando chamaram a menina, pronunciaram Rosanne Mu-mu-muliolândi (o correto seria algo como Mulróland). Ela ficou vermelha na hora. "Olhei para a minha família, na platéia, e estavam todos gargalhando, apontando para mim." A não ser pela pronúncia, Rosanne não acredita que o sobrenome deva causar mais embaraços. "Tudo que conquistei até aqui foi pelo meu esforço, numa profissão totalmente diferente da do meu pai. O meu nome já é meu. Não acho que isso vá escapar entre as minhas mãos. " A estréia do filme de Murilo Salles está prevista para o segundo semestre. 'Meu Mundo em Perigo' A brasiliense conta que esta sua personagem, Ísis, é a que mais assume a própria fragilidade. No filme, também de Belmonte, que deve estrear em julho, ocorre uma situação familiar opressora e ela foge para morar num hotelzinho barato, onde conhece o protagonista, vivido por Eucir de Souza. Com a mesma fragilidade de Ísis, Rosanne admite: "Meu mundo esteve em perigo na separação dos meus pais, quando eu tinha 16 anos. Foi difícil, bem difícil..." Ela continuou morando com a mãe e o irmão e via o pai com freqüência. 'Bellini e o Demônio' Cenas de rituais macabros, assassinatos brutais e bruxaria permeiam o longa de Marcelo Galvão, baseado no livro homônimo de Tony Belloto e sem previsão de estréia. Durante as gravações, em São Paulo, coisas estranhas aconteceram. Rosanne estava no hotel, dormindo sozinha, e acordou assustada com o despertador. Ela não tinha colocado o relógio para despertar. E tentava que tentava desligar, mas não conseguia. "É porque estava nervosa, sou muito medrosa. Não tenho religião. Acredito em Deus, mas sou meio brigada com esse assunto. Acho que já fui muito oprimida com isso." Os pais de Rosanne não são muito religiosos, mas os avós paternos, sim. Missionários batistas, conviveram de perto com a neta até os 13 anos dela, quando voltaram para os EUA. Ainda por cima, Rosanne estudou em colégio de freira. 'Falsa Loura' or uma semana, a atriz se estranhava no espelho quando via as madeixas loiras, que nunca tinha usado. Gostou tanto que resolveu adotar o visual para o próximo papel, na novela da Band. Na pele de Silmara, operária do ABC paulista, Rosanne conquistou a crítica e o diretor, Carlão. Mas a loirice, mesmo a falsa (ou principalmente), tem seu preço. "A maneira como as pessoas me tratam mudou, os homens ficaram mais folgados." Foi chamada de loira burra pela primeira vez na Avenida Paulista - ela está morando em São Paulo para gravar a novela. Esbarrou, sem querer, em uma garota que caminhava com o namorado. "Pedi desculpa, mas o namorado falou, muito agressivo: ?Pô, sua loira burra!?. Foi aí que me dei conta, ?é mesmo, sou loira agora?." 'Água na Boca' A novela estréia em maio. Não é a primeira de Rosanne, que já atuou em Sete Pecados, da Globo. Mas é a primeira mocinha protagonista, depois de tantos papéis "punk" no cinema. Ela fará Danielle, filha de franceses que está voltando da Europa, onde estudou para assumir o lugar do avô como chef de seu restaurante. A heroína conhece Luca, filho de italianos, donos de uma pizzaria. As famílias são inimigas e o casal enfrentará dificuldades e... bom, é uma novela. A atriz não cozinha muito, porque não gosta de lavar louça. Mas adora comer - massas, especialmente, inclusive pizza. O avô chamava a neta de dona Macarronada. Sobre o longa que filmará no fim do ano, Rosanne não revela nada. Mas, enquanto posava para as fotos desta reportagem, foi abordada por um produtor de cinema. Trocaram cartões e parece que do encontro pode sair uma comédia romântica no futuro. "Ah, agora minha mãe vai ficar feliz."

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