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Bienal de Paris fica mais enxuta e acessível na edição de 2018

Feira de arte e antiguidades criada por André Mauraux passa por mudanças

Por Ted Loos
Atualização:

Quando Tom Cruise desceu de paraquedas no Grand Palais, em Paris, no filme Missão Impossível – Fallout, ele aterrissou ali com uma surpreendente delicadeza tendo em vista o salto. Os marchands de arte estiveram empenhados em algo similar na 30.ª edição de La Biennale Paris, a venerável feira de antiquários que ocorreu sob o teto de vidro do Grand Palais até hoje, 16 de setembro. No ano passado, a grande novidade dessa Bienal foi a eliminação do termo antiguidades do seu nome e sua mudança para uma apresentação anual – grandes transformações uma vez que a feira estreou em 1962, criada pelo escritor e ministro da Cultura da França André Mauraux.

Guache do pintor orientalista francêsJacques Majorelle foi destaque na Bienal de Paris Foto: Galerie Ary Jan

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Esse ano a grande mudança foi a diminuição no número de marchands, de 94 para 62. “É um grupo menor de galerias, mais na tradição da Bienal quando a conheci pela primeira vez”, disse Christopher Forbes, presidente da feira. 

Segundo o colecionador americano e herdeiro da editora que leva o mesmo nome, a edição deste ano também corrigiu um inconveniente na organização das galerias. “Se tivesse de criticar alguma coisa diria que era o layout”, disse ele. “Alguns estandes não estavam bem posicionados. Havia espaços inoperantes”.

Para ele, salvo esse aspecto, a resposta às mudanças em 2017 foi positiva. “A participação do público aumentou 8,5% e a feira foi bastante lucrativa. E essas são boas indicações a seguir”. 

Naturalmente quando os objetos são luxuosos, como uma poltrona do século 18 ou um relógio raro, o número de pessoas importa menos do que o tipo de visitante. “Havia muitos diretores de museus americanos. Eles vieram com seus curadores, e suas carteiras”. A feira, cujo foco é a arte mais antiga, mas também aceita obras contemporâneas, é conhecida pelo exame rigoroso das peças, submetidas a um processo pelo qual é avaliada a autenticidade das obras de arte. “Eles são muito meticulosos”, disse Marianne Rosenberg, da Rosenberg & Co. de Nova York, que expõe na Bienal pela primeira vez. “Eles amam certificados.”

A feira é organizada pela Federação Nacional dos Antiquários, conhecida por sua abreviação francesa SNA, mas os objetos são investigados e aprovados por uma comissão separada. “O exame das obras é totalmente independente”, disse Mathias Ary Jan, presidente da SNA. “A SNA não pode desautorizar a investigação. E ela foi reforçada este ano.” Ele também é um expositor e sujeito a esse exame. Sua galeria em Paris é especializada em objetos do final do século 19 e início do século 20. Entre as 25 peças do seu estande há um guache de 1949 do famoso pintor francês Jacques Majorelle, Kasbahs dans la Région de Ouarzazate, Maroc.

Dois terços das galerias são da França. “A feira tem esse toque francês”, disse Ary Jan. O que é particularmente verdade no caso da exposição especial sobre Napoleão, L’Empereur sous la Verrière, cujas peças são do colecionador Pierre-Jean Chalençon e não estão à venda. 

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Esta mostra foi projetada pelo diretor artístico convidado pela Bienal, o estilista Jean-Charles de Castelbajac. Ele criou um espaço com bandeiras coloridas penduradas que criam uma forma de tenda em torno dos objetos.

Apesar de toques profundamente franceses como no caso da mostra de Napoleão, algumas galerias são de outros países, como a São Roque, de Lisboa, e a Whitford Fine Art de Londres.

Mas mesmo a Rosenberg & Co, apesar de ter sede em Nova York, tem raízes em Paris. O bisavô de Marianne, Alexandre Rosenberg, fundou a galeria em Paris em 1878 e começou ali a negociar com artistas importantes. “Picasso foi padrinho do meu pai”, observou ela.

“Como muitas galerias, ficamos desesperados para encontrar uma feira de arte de qualidade. Muitas são ultra contemporâneas e não nos encaixamos nelas”, disse Marianne.

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A Rosenberg & Co. expõe de tudo, desde peças da primeira fase do cubismo até uma obra de Henry Moore, como também de artistas vivos – mas Marianne disse serem do tipo mais conservador. “Nossos artistas contemporâneos sabem como usar um pincel. Não pintam uma cama desfeita e uma prancha com uma lâmpada”. Seu estande na Bienal exibe um óleo de Paul Eluard de 1913, Le Cirque (Triptyque), entre outras obras.

Anthony J.P. Meyer, que dirige a Galerie Meyer em Paris, expõe suas peças na Bienal pelo terceiro ano. Mayer, que trabalha com arte Oceânica, que le define como arte “do Pacífico, mas antes da chegada do Capitão Cook” – concordou com Rosenberg no sentido de que o público é tudo.

“Se você se fecha na sua galeria, essas pessoas nunca passarão por lá. Mas na feira há um público cativo. Estamos ali para fazer negócios, não ficar de braços cruzados”.

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Entre outras peças ele está expondo uma figura de pedra agachada de 500 anos que reúne características humanas e animais e foi encontrada na Papua Nova Guiné.

Ele também expõe na Parcours des Mondes, feira de arte tribal em Paris que se realiza à mesma época da Bienal.

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“Muitas galerias têm dificuldade em participar de ambas, mas elas têm clientes e uma direção diferentes. Eu estou na Bienal tendo em vista um tipo específico de cliente, um colecionador heterogêneo, alguém que não conhecemos ainda”.

Ele disse que fãs sofisticados de arte moderna e contemporânea entendem que “a arte tribal é o alicerce com base no qual a arte mais recente foi criada” e que juntas ela fazem uma bela combinação. “Uma máscara oceânica ao lado de uma grande pintura é bonito e funciona”, afirmou.

Embora o ambiente fechado de peças caríssimas e compradores abastados possa ser bom para o crescimento das vendas, a Bienal vem empreendendo esforços para alcançar um mundo mais amplo, também.

Os organizadores observam que simultaneamente ocorrem a Paris Design Week e a feira de design Maison & Objet, e a ideia é de que a cidade inteira é um centro dos que amam objetos de luxo. E pela primeira vez a Bienal faz parte do European Heritage Days, uma iniciativa que se ampliou para todo o continente com o objetivo de abrir as atrações culturais para o público.

“Deste modo a feira parece mais acessível e menos elitista”, disse Forbes. “Isto é importante nos dias atuais.” / Tradução de Terezinha Martino 

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