Autobiografia de Obama: confira os trechos mais impactantes, capítulo a capítulo

'Uma Terra Prometida', do ex-presidente dos Estados Unidos, chega ao Brasil em lançamento mundial

PUBLICIDADE

Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

O ex-presidente norte-americano Barack Obama começou a escrever (à mão) a primeira parte de seu livro de memórias, Uma Terra Prometida, logo após o fim de seu mandato. Esse primeiro volume, com mais de 700 páginas, publicado no Brasil pela Companhia das Letras, chega às livrarias hoje, 17, abrindo caminho para a reedição pela mesma editora das duas autobiografias anteriormente lançadas, Sonhos do Meu Pai e Audácia da Esperança – as novas edições chegam ao mercado em janeiro.

O ex-presidente norte-americano Barack Obama Foto: Damon Winter/The New York Times - 05/11/2008

PUBLICIDADE

O primeiro dos dois volumes de Uma Terra Prometida tem sete capítulos. No primeiro, A Aposta, ele atualiza algumas informações de Sonhos do Meu Pai sobre sua família liberal. Nascido em Honolulu, em 1961, Obama tinha dois anos quando seus pais se divorciaram. A imagem paterna que ele tem foi construída por histórias narradas por sua mãe Ann Dunham, do Kansas, de personalidade forte e avessa a convenções sociais. Ele só veria o pai novamente em 1971 durante uma breve visita ao Havaí, casado com outra mulher. Obama pai morreu num acidente de carro no Quênia, em 1982.

Mãe influenciou mais Obama

Essa morte o marcou profundamente. O pai era um mito para ele, porém a mãe foi mais influente com suas leituras de poetas existencialistas e suas opiniões contra a guerra no Sudeste Asiático. Horrorizada com o racismo, conta Obama neste primeiro capítulo, ela se casou não uma, mas duas vezes com homens de outra raça. Divorciou-se dos dois, por não suportar a opressão chauvinista dos maridos.

Ainda no capítulo, Obama fala ainda de sua formação intelectual (leituras de Ralph Ellison, Langston Hughes, Dostoievski, D. H. Lawrence e Emerson) e seu batismo de fogo na política, ao concluir que não era totalmente absurda a ideia de um negro conseguir um assento no Senado. Sua eleição, revela, melhorou as finanças familiares, mas o furacão Katrina e sua visita ao Iraque puseram por terra seus sonhos juvenis. Teve, admite, uma crise de fé por volta de 2006 – ele nunca acreditou, na verdade, no destino. Mas foi a primeira vez que não considerou fora de cogitação concorrer à presidência (Joe Biden e Hillary Clinton também pensaram na mesma coisa, preparando o terreno para 2008).

Acusação maluca dizia que Obama foi traficante

No segundo capítulo do livro, Sim, Nós Podemos, que começa em 2007, Obama anuncia sua candidatura à presidência, comenta as teorias malucas sobre ele que ganharam ampla divulgação (de traficante de entorpecentes a michê quando jovem), cita a rivalidade inicial com Hillary Clinton (batalhando palmo a palmo o cargo presidencial) e o apoio decisivo do sete vezes senador Ted Kennedy (1932-2009), citando pela primeira vez (na página 177), o nome de seu futuro vice, Joe Biden, agora eleito presidente. Seu colega de Senado não poderia ser mais diferente de Obama.

Publicidade

Bush recebeu Obama bem

No terceiro capítulo, Renegade, Obama fala de Bush com simpatia – até mais do que se esperaria de um democrata – e diz que ele acabou fazendo de tudo para que a transição corresse bem. Já presidente, em 2009, ele lembra que a madrasta do pai, Mama Sarah, veio do noroeste do Quênia especialmente para a posse – “aquela mulher sem nenhuma instrução formal, que morava numa casa de telhado de zinco, sem água corrente nem saneamento básico, sendo servida no jantar na Blair House”. A parte mais importante desse capítulo diz respeito às primeiras leis e decisões do presidente para superar a grande depressão econômica provocada pela crise de 2008. É possível notar que Obama se via como um novo Roosevelt a promover uma reedição do New Deal, mas havia ainda a guerra no Iraque no caminho e o Afeganistão para atrapalhar, antes de sancionar a Lei da Recuperação. Boa parte desse capítulo é dedicada ao terrorismo e aos custos acumulados nessa guerra (US$ 1 trilhão, mais de 3 mil soldados americanos mortos e 30 mil feridos).

No quarto capítulo, sugestivamente batizado de O Bom Combate, Obama fala da relação dos EUA com seus parceiros europeus, focando nos perfis de Merkel e Sarkozy – a primeira descrita como filha de pastor luterano de “sensibilidade pragmática e analítica” e Sarkozy caracterizado como um baixinho saído de algum quadro de Toulouse-Lautrec que era “puro arroubo emocional e grandiloquência retórica”. Obama gostou mesmo de conhecer o dramaturgo e presidente checo Václav Havel, que deu peso moral aos movimentos democráticos que colocaram um ponto final na era soviética. No capítulo, Obama comenta as diferenças entre culturas de formação islâmica (Arábia Saudita e Indonésia, onde viveu na infância), elogia intelectuais judeus como Eli Wiesel e revela o conteúdo da carta de Ted Kennedy, entregue a ele após sua morte, em que agradecia por Obama ter assumido a causa da reforma da saúde nos EUA.

Obama contra os generais

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

No quinto capítulo, O Mundo Como Ele é, Obama narra seu acirrado conflito com os generais do Pentágono, conta como recebeu a notícia do prêmio Nobel da Paz (em 9 de outubro de 2009) – uma telefonista da Casa Branca o tirou da cama para dar a notícia que, transmitida à mulher Michelle, foi recebida sem muita convicção: “Que maravilha, amor”, ela disse, rolando para o lado e voltando a dormir. Obama confessa que não se sentiu bem com o prêmio. Havia uma guerra no Iraque, quase todas as semanas visitava soldados mutilados e, acima de tudo, ele havia prometido aos americanos uma política externa diferente. Obama fala da batalha travada com os republicanos contra seu governo (que o acusaram de adular um regime assassino como o iraniano) e das conversas tensas que teve com Putin sobre o programa nuclear do Irã (Obama sugeriu que a Rússia cancelasse uma venda iminente do poderoso sistema de defesa antiaéreo). Ele se identificou mesmo com outro russo e ex-presidente agraciado igualmente com o Nobel da Paz, Gorbachev.

No sexto capítulo, A Toda Prova, que começa no segundo ano do mandato presidencial, quando seus índices de aprovação começaram a cair, Obama relata as dificuldades que teve para sancionar, em 2010, a lei de Reforma de Wall Street e Proteção ao Consumidor, que não lhe traria muitos ganhos políticos. Além disso, o dano ambiental provocado pelo derramamento da plataforma Deepwater no golfo do México – o poço de Macondo liberaria, segundo as projeções da época, mais de 4 milhões de barris de petróleo em mar aberto – ajudaram na queda da popularidade de um presidente comprometido com o meio ambiente. Para finalizar, o compromisso de fechar o centro de detenção de Guantánamo começou a fazer água. Como alternativa, Obama apostou em dois projetos de lei polêmicos (o que garantiria direitos à comunidade gay e o que tentou regularizar a situação de 11 milhões de imigrantes que moravam nos EUA). A incapacidade de aprovar a lei Dream (dos imigrantes), diz Obama, foi “uma pílula amarga e difícil de engolir”.

A vitória contra Bin Laden

Publicidade

No sétimo e último capítulo do primeiro volume de suas memórias, Na Corda Bamba, Obama tenta compensar esse fiasco falando da vitória contra o terrorista Osama Bin Laden, o homem por trás dos atentados do 11 de Setembro. Passa pelo inevitável conflito entre Israel e palestinos, a morte de Gaddafi, sua visita ao Brasil, seu encontro com a ex-presidente Dilma Roussef, suas impressões sobre a pobreza e o racismo “profundamente enraizado” em nosso país e, finalmente, seu entusiasmo pela operação da Marinha americana contra o esconderijo de Bin Laden. Foi a primeira vez que, como presidente, assistiu a uma operação militar em tempo real. Agora, é aguardar o segundo volume de suas memórias para saber mais sobre as contradições de um Nobel da Paz que viveu o tempo todo entre guerras como presidente.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.