Dez livros essenciais recomendados pela equipe do 'Aliás' em junho

Lista publicada no último domingo de cada mês reúne lançamentos nas livrarias brasileiras

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Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por André Cáceres e Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

A equipe do Aliás seleciona, na última edição de cada mês, dez obras publicadas recentemente no Brasil e em outros países para incluir em sua Estante. Confira as indicações de junho:

Os livros recomendados pela equipe do 'Aliás' em junho 

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Coração das Trevas - Joseph Conrad (Ubu)

Os males do colonialismo podem ser resumidos neste clássico de Joseph Conrad, Coração das Trevas, que a Ubu lança em tradução de Paulo Schiller. O capitão de um barco, Marlow, parte ao encontro de um explorador de marfim, Kurtz, que vive entre nativos do Congo e deve voltar à civilização dos brancos, que, segundo o escritor polonês, é tão brutal como a selva congolesa. O cineasta Francis Ford Coppola tomou o livro como ponto de partida para escrever o roteiro de sua obra-prima, Apocalypse Now. A nova edição do livro de Conrad traz posfácio inédito do escritor Bernardo Carvalho e ensaios críticos, além de ilustrações de Rosângela Rennó.

Dias Exemplares - Walt Whitman (Carambaia)

No ano do bicentenário do poeta americano Walt Whitman (1819-1892), a editora Carambia lança uma edição especial de Dias Exemplares, cuja estrutura se assemelha a um diário, reunindo fragmentos e ensaios curtos do autor de Folhas da Relva (1855). Nele, Whitman fala de sua infância e juventude, comentando sua formação literária e musical. Há também comentários sobre personagens ilustres de seu tempo. O livro foi concluído por Whitman aos 64 anos, quando o escritor já havia sofrido um derrame. Um dos melhores momentos do livro é o comentário de Whitman, um democrata, sobre a Guerra da Secessão, na qual seu irmão esteve envolvido.

Todos os Homens São Mortais - Simone de Beauvoir (Nova Fronteira)

Romance que é também um ensaio filosófico sobre a experiência existencial, Todos os Homens São Mortais virou clássico e recebeu algumas edições no Brasil (a última em 1983 pela Nova Fronteira, com tradução de Sérgio Milliet). O livro volta ao mercado e confirma o talento de Simone de Beauvoir como ficcionista. Nele, Raymond Fosca torna-se imortal ao beber um elixir no século 18, também ingerido por um rato. Já no século 20 o leitor acompanha a impotência de Fosca diante da vida. Ele quer morrer, mas já não pode. Só quando ama alguém, o desejo de viver se reacende. Quanto ao rato, ele continua fugindo dos homens com terror justificado.

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A Casa no Brasil - Antonio Risério (Topbooks)

Polêmico, brilhante, o antropólogo Antonio Risério tem entre seus leitores o compositor e cantor baiano Caetano Veloso, que escreve sobre ele na contracapa do livro A Casa no Brasil, em que resume o conteúdo de um livro que fala dos vários modos de morar e das diversas moradias no Brasil, evocando desde o modelo hollywoodiano até os mocambos, passando pelas ocas tupis e os prédios construídos segundo a tradição moderna da Bauhaus. O historiador Jorge Caldeira destaca a erudição de Risério, capaz de fazer associações inusitadas para mostrar que casa é tecnologia e linguagem, de Gropius a Rykwert. Um livro sobre a poética da habitação.

The Capital - Robert Menasse (Liveright)

Por meio de cinco histórias interligadas, o escritor austríaco Robert Menasse criou The Capital, considerado pela crítica europeia o primeiro grande romance sobre a União Europeia. Ambientado em Bruxelas, o livro aborda o cotidiano na capital que é o coração da UE, condenando de forma veemente a burocracia multinacional que emperra a máquina que move o continente europeu. Bastante sarcástico, Menasse, já conhecido do leitor brasileiro, mira particularmente o Reino Unidos – o que o torna bastante atual por causa do Brexit. Há também alusões ao universo surrealista de Magritte numa investigação comandada por um Maigret belga.

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Redemoinho em Dia Quente - Jarid Arraes (Alfaguara)

A jovem escritora cearense Jarid Arraes surgiu na literatura como uma espécie de porta-voz da nova geração de cordelistas. Em 2018, seu livro Um Buraco Com Meu Nome revelou sua faceta de poeta contemporânea. Agora, a autora que será um dos destaques da Flip, publica Redemoinho em Dia Quente, reunião de contos curtos que não apenas a consolida como uma das principais vozes emergentes fora do eixo Rio-São Paulo, mas também mostra um sertão para além de estereótipos, urbanizado e repleto de contradições. Mesclando o real e o insólito, Jarid Arraes aborda personagens femininas que fogem dos papéis estabelecidos e não se encaixam em seus contextos sociais.

A Metamorfose das Plantas - Johann Wolfgang Von Goethe (Edipro)

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Não satisfeito em ser um dos maiores escritores de todos os tempos e patrono das letras alemãs, Johann Wolfgang von Goethe também se dedicou extensivamente à ciência. Duas décadas antes de publicar seu célebre estudo Teoria das Cores, Goethe se debruçou sobre a botânica no ensaio A Metamorfose das Plantas. A obra descreve o processo pelo qual as folhas, formas primitivas e fundamentais dos vegetais, dão origem aos mais diversos órgãos. Em uma época anterior à noção de evolução, suas contribuições foram pouco reconhecidas, mas Charles Darwin, 69 anos depois, cita brevemente as ideias de Goethe em A Origem das Espécies, restituindo-lhe o estatuto de pioneirismo científico. 

Este É o Mar - Mariana Enriquez (Intrínseca)

Após estrear com o livro de contos As Coisas que Perdemos no Fogo, a escritora e jornalista argentina Mariana Enriquez, que estará na Flip, publica no Brasil seu primeiro romance. Ao conferir uma dimensão mitológica a aspectos do cotidiano, Este é o Mar percorre a tradição de fantasia urbana no estilo de nomes como o autor Neil Gaiman e o diretor M. Night Shyamalan. Em seu livro, para se tornar uma lenda do rock é necessário firmar um pacto com as entidades chamadas Luminosas. Em um retrato crítico da juventude contemporânea, o livro acompanha um desses seres, que tenta conferir sucesso a um cantor, algo difícil em tempos de anseios tão efêmeros.

A Telepatia São os Outros - Ana Rüsche (Monomito)

Não é por acaso que a poeta paulistana Ana Rüsche faz referência ao aforismo de Jean-Paul Sartre (“O inferno são os outros”) no título de sua nova novela. Se o filósofo francês alude à importância da alteridade para a formação da identidade individual, A Telepatia São os Outros reflete sobre a paradoxal combinação entre tecnologias de comunicação e o isolamento contemporâneo. Enfrentando uma crise de meia-idade após a morte da mãe, a protagonista Irene parte para um retiro num vilarejo do Chile. Quando ela experimenta uma substância que desencadeia a telepatia no cérebro humano, suas noções de relação interpessoal são desestabilizadas.

O Santo - César Aira (Rocco)

César Aira é um dos mais prolíficos escritores argentinos contemporâneos. Em seu mais recente livro, vencedor do Prêmio Iberoamericano de Narrativa Manuel Rojas, ele retorna à Idade Média para narrar o fim da vida de um monge enclausurado num mosteiro catalão. Quando o sacerdote decide retornar à Itália, sua terra natal, para passar seus últimos dias, o abade do vilarejo encomenda seu assassinato para não perder uma figura religiosa tão lucrativa para a cidade. O monge sobrevive ao atentado, mas acaba tendo de passar por uma última jornada de provações – e descobre que suas convicções não eram tão fortes quanto ele imaginava.

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