
29 de dezembro de 2013 | 02h05
Este caderno Travessia busca resgatar o que decantou dessa luta toda, aqui e no mundo. Porque, como lembra o sociólogo Michael Löwy nas páginas seguintes, "a digna raiva" extravasou em 2013. Daí que vasculhamos o que restou das jornadas de junho na política, na economia, na saúde, na educação, no transporte público. Confirmamos o que respingou no casamento gay e na religião. Fomos atrás dos rebeldes da banda larga e das mentiras de perna curta. Trouxemos inclusive uma ficção sobre invasão de privacidade com Anyone e Someone - que Everybody vai entender.
Para ilustrar o movimento nas ruas, duas propostas. A primeira: grafite. E grafite na cidade de São Paulo, uma das mecas da arte urbana mundial. O fotógrafo do Estado Tiago Queiroz começou pelas pilastras da Avenida Cruzeiro do Sul, "um não lugar", e terminou no Beco do Batman, "o lugar" na Vila Madalena. Não é de hoje que Tiago foca os muros com interesse. Seu olhar começou a se viciar no assunto quando ele ainda estudava jornalismo e cruzou no bairro do Cambuci com Arnaldo, o irmão mais velho d'osgemeos, que andava com uma bicicleta gigante pelas ruas da região. A certa altura Arnaldo mostrou a ele uma caixinha de madeira, de onde puxou uma gaveta. Ali dormia uma miniatura do boneco que consagrou a dupla de grafiteiros. Arnaldo continua no anonimato assessorando os irmãos, mas revoluciona com suas invencionices de duas rodas.
Quer apostar?
Mais ou menos na mesma época, Binho Ribeiro também gravitava nessa área. Arrepiava no hip hop e no skate, e dali para o grafite foi automático. É dele o peixe que você entrevê logo acima, e também as corujas e outros bichos coloridos que energizam a capital. Binho é curador da Graffiti Fine Art, em exposição no MuBE, que passou por Los Angeles e provavelmente passará por Miami no ano que vem. Neste momento, ele deve estar finalizando o túnel da Avenida Rebouças com outros 14 artistas. Aqui ele deixou a seguinte mensagem: "Proteste contra o que acontece na sua rua, e não só contra aquilo que o afeta entre quatro paredes".
Bel Pedrosa sempre preferiu o chão. Mergulhou no asfalto carioca, mineiro e chileno e deles trouxe imagens que compõem o ensaio central. Colaboradora do The New York Times e do El País, Bel cria mosaicos desconstruindo e reconstruindo o que fotografa. Seu trabalho causa estranheza em quem procura uma fórmula fechada de expressão. Ele é nosso segundo recurso para ilustrar um ano que quebrou nossas pernas e nossos corações.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.