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'Espero que a Justiça olhe também pelas vítimas que ainda estão vivas'

Carta aberta aos envolvidos no julgamento do médico Marcelo Caron

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Por Redação
Atualização:

Idê Rosa de Souza, vítima do médico Marcelo Caron Em 1999, quando tinha 29 anos, decidi fazer uma operação para redução dos seios, não por estética, mas porque sofria de dores na coluna. Um médico que possuía uma clínica perto da minha casa, em Turvânia (GO), indicou-me o dr. Marcelo Caron e garantiu-me que ele era um profissional extremamente capacitado. Eu acreditei. Pouco tempo depois da cirurgia vi que algo tinha saído errado. Eu sentia fortes dores e procurei o dr. Caron. Ele havia sumido. Quando me dei conta do resultado da cirurgia entrei em desespero. Um dos meus seios havia sido praticamente extirpado. Diversos cortes deformaram meu torso, atingindo até os nervos do braço, o que causou dores fortíssimas. Como o responsável pelo meu sofrimento havia desaparecido, procurei a Justiça. Encontrei apenas humilhação. Fui acusada por membro do Conselho Regional de Medicina de Goiás de estar apenas interessada em dinheiro. Um dos médicos que me atendeu no Hospital das Clínicas de Goiânia disse-me "isso é o que acontece quando se faz tudo pela beleza". O próprio Marcelo Caron jogou-me na cara que nada acontece neste país a quem tem dinheiro. Somente depois que ele matou sua terceira vítima, em 2001, deram-me um pouco de atenção. Com a ajuda da imprensa, consegui uma nova cirurgia. Meu seio foi reconstruído, mas ficaram muitas marcas, tanto na pele, quanto na alma. Ainda hoje tomo remédios para as dores e para a depressão e, por causa desta, estou desempregada. Sobrevivo com a ajuda da comunidade e de alguns anjos que me ajudam. Ganhei na Justiça uma indenização de R$ 101 mil, que até hoje não recebi e talvez só receba quando for tarde demais. Não fui uma das vítimas de Marcelo Caron que morreram, mas estou morrendo aos poucos. Agora, ele vai a júri popular pela morte de duas mulheres. Desejo que receba a punição que merece, embora ache difícil que isso aconteça. Mas o que realmente espero é que a Justiça olhe pelas vítimas desse médico que ainda estão vivas e têm de conviver, a cada dia, com as marcas de sua incompetência.

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