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Feliz 2010!

Para economistas, situação tende a melhorar em 2009, mas a fraca recuperação pode nem ser percebida

Por Sérgio Augusto
Atualização:

Ou vocês acreditam que 2009 será um ano melhor do que 2008? Sim, 2008, este que ora definha, assombrado pela maior crise econômica dos últimos 70 anos. Não duvidem: vocês ainda vão sentir saudade de 2008, um ano que ao menos terminou com uma nova e divertida contribuição à paremiologia universal: "Um sapato vale mil palavras". Como não são remotas as hipóteses de que outros Bernard Madoffs poderão ser desmascarados nos próximos meses e roubos de donativos destinados a flagelados continuarão ocorrendo em todo o território nacional, melhor guardar o champanhe para 2010. Até porque, com o sobe-e-desce do real, o champanhe importado ficará bem mais caro em 2009. Ok, há um consenso entre os economistas das mais variadas tendências de que a situação tende a melhorar. Mas a recuperação, de tão fraca, quase não será percebida. Muito menos nos países desenvolvidos - e ainda menos no epicentro da crise, os EUA -, restando ao Brasil a esperança de que os palpiteiros acantonados nas duas mais ilustres publicações econômicas do Ocidente, a revista The Economist e o jornal Financial Times, estejam mais certos do que errados. Em pelo menos três artigos da edição especial da The Economist, com as perspectivas para 2009, o Brasil é mencionado em termos relativamente otimistas. Nossa economia, apesar da quebradeira no Hemisfério Norte, se manterá "robusta", prevê Daniel Franklin, editor da revista. Beneficiados pela diversificação dos mercados para os quais exportamos nossas commodities, continuaremos com índices melhores que os do México, prognostica o expert em América Latina Michael Reid. O real, contudo, parece unânime esta desconfiança, sofrerá novas depreciações; razão bastante para se estocar champanhe (ou mesmo prosecco) para 2010 com o dólar abaixo dos R$ 2,50. Parafraseando a Bette Davis de A Malvada, apertem os cintos, que a turbulência será grande. Mas é possível que daqui a um ano estejamos dizendo coisas do tipo "valeu a pena", "foi melhor assim", "como estava não podia ficar", convictos de que o velho capitalismo de trampas, consumo conspícuo e iniqüidades várias já morreu tarde. Aí, sim, 2009 há de lograr um lugar na história como o ano em que, forçada pelas circunstâncias, a economia de mercado, humildemente, começou a "humanizar-se". Enquanto muitos já vislumbram (e festejam) mudanças radicais nos hábitos de quem até recentemente ostentava riquezas e exibia uma vaidade beirando o patológico, Lucy Kellaway, do Financial Times, aposta, por exemplo, no crescente desprestígio e na obsolescência dos CEOs (chief executive officer, vulgo diretor-geral), dos marqueteiros, dos diretores de recursos humanos e das viagens a negócio com mordomias. No lugar dos CEOs entrarão os CFOs (chief financial officers), gestores de gastos e recursos, mas sem direito às bonificações bilionárias dos predadores de Wall Street que nos levaram ao descalabro em curso. Outra boa notícia para 2009? Parece que o preço da gasolina vai mesmo baixar, embora mais carros em circulação signifiquem mais CO2 na atmosfera e menor consumo de combustível afete os lucros da Petrobrás e a produção de filmes, peças, eventos e o que mais ela costuma patrocinar. Falam em queda (de até 80%) no preço de remédios fundamentais, cujas patentes vão caducar nos próximos meses, beneficiando a indústria dos genéricos e a nós todos, presas dos grandes laboratórios internacionais. Por falar em doença, uma pesquisa da Universidade de Oklahoma demonstrou ser possível, já em meados de 2009, detectar alguns tipos de câncer pelo bafo do paciente, mediante um sensor à base de lasers. Das outras novidades prometidas para o novo ano, os destaques, por ora, ficam com o lançamento do primeiro carro movido a ar comprimido, prometido pela Zero Pollution de Nova York e pela indiana Tata Motors; a comercialização de uma embalagem em tudo o oposto do plástico, inclusive por ser comestível (adeus, saco plástico; salve o embrulho sabor caramelo); o lançamento, pela Nasa, em abril, do poderoso telescópio espacial Kepler, capaz de monitorar ao mesmo tempo 100 mil estrelas e detectar a aparição de novos planetas. O Kepler será o hors d?oeuvre do Ano Internacional da Astronomia, que começa, oficialmente, daqui a um mês em Paris, no rastro das comemorações dos 400 anos das primeiras observações telescópicas feitas por Galileu Galilei. Se já existe um telescópio com o nome de Galileu, não está mais aqui quem ia perguntar por que deram ao novo prodígio óptico da Nasa o nome de Kepler. Em matéria de efemérides, nada, a meu ver, se compara aos 400 anos do telescópio de Galileu e ao sesquicentenário da publicação de A Origem das Espécies, de Charles Darwin, cujo bicentenário, aliás, se celebra em 12 de fevereiro. O Vaticano não deve estar gostando nada dessas coincidências. Só para constar: em 2009 fará 60 anos que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) foi criada; 50 anos que Asterix e a boneca Barbie vieram ao mundo da fantasia; 30 anos que a revolução islâmica aiatolou o Irã; 20 anos que o Muro de Berlim caiu e o pau quebrou na Praça da Paz Celestial, em Pequim; e um ano que os americanos puseram um negro na Casa Branca e o jornalista iraquiano Muntadar al-Zeidi entrou, literalmente, de sola no presidente dos EUA.

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