PUBLICIDADE

Livro narra 5 mil anos de história da África em 700 páginas

Projeto ambicioso, 'O Destino da África' foi escritor por ex-correspondente de jornais no continente

Foto do author Cristiano  Dias
Por Cristiano Dias
Atualização:

No século 14, a Europa vivia em pandarecos. A Peste Negra já levava mais de 100 milhões de almas, enquanto França e Inglaterra se engalfinhavam em uma guerra sem fim. A única coisa que parecia prosperar era a lei de Deus. Mas não era o catolicismo, exaurido entre Roma e Avignon. A fé do momento era o Islã, que se lançava ao mundo. Como fiel muçulmano, Mansa Musa, o rei do Mali, partiu em peregrinação a Meca. 

Mapa antigo do continente africano, tema do grandioso 'O Destino da África', de MartinMeredith Foto:

PUBLICIDADE

Corria o ano de 1324, quando o soberano chegou ao Cairo com 500 escravos e 100 camelos, levando toda a quantidade de ouro que conseguia carregar. De acordo com um funcionário do governo egípcio, foi tanta riqueza injetada na cidade que a passagem do monarca africano arruinou o valor do dinheiro. Dez anos depois, o escritor árabe Ibn Fadl al-Omari dizia que a economia local ainda não havia se recuperado. 

 O ouro era moeda forte, financiava guerras e erguia catedrais. Dois terços do metal que circulava na Europa vinham das caravanas que atravessavam o Saara. Quem tinha ouro, tinha poder. E a superpotência do século 14 era o Mali, capitaneado por Musa, uma espécie de Bill Gates da Baixa Idade Média. A breve história do reino contada por Martin Meredith em O Destino da África ajuda a desconstruir a visão distorcida de um continente castigado pela miséria. A África é rica, mas a fartura é para poucos. 

 Meredith é um jornalista e historiador britânico marcado pela África. Quando criança, sonhou explorar o Nilo. Aos 21, desembarcou no continente para ser repórter do Times of Zambia. Depois, foi correspondente dos jornais Observer e Sunday Times. Em 1972, foi preso pelos jagunços de Idi Amin, o excêntrico ditador de Uganda. A ideia era jogá-lo na cadeia por espionagem, mas o máximo que conseguiram foi trancafiá-lo por uns dias pelo roubo de um catálogo telefônico de US$ 1. Desde então, Meredith publicou uma dúzia de livros sobre o continente. Entre eles, duas ótimas biografias: Mugabe, sobre o homem forte do Zimbábue, e Mandela, um dos melhores relatos já escritos sobre o patriarca da África do Sul.

O Destino da África é um ponto de partida para quem pretende explorar a fantástica jornada de um continente. É um épico ambicioso, que narra 5 mil anos de história em pouco mais de 700 páginas – dos faraós egípcios aos atuais investimentos chineses. O trabalho é ainda mais audacioso em razão da opção metodológica de incluir o Magreb e o Egito, quando boa parte dos historiadores se restringe à África negra subsaariana. 

A vantagem desta amplidão cronológica é que o livro pode ser encarado como um manual e seus capítulos não precisam ser lidos na ordem em que estão dispostos. Para uma perspectiva mais concentrada da história africana, Meredith tem outros calhamaços de linhas temporais mais definidas: Diamonds, Gold, and War (600 páginas), sobre a fundação da África do Sul, e The State of Africa (770 páginas), que conta a história do continente a partir dos movimentos de independência, nos anos 1950.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.