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Livro traz textos engraçados de um trio bem afinado

'Crônicas para Lerem Qualquer Lugar' reúne um time formado por Maria Ribeiro, Gregório Duvivier e Xico Sá

Por Matheus Lopes Quirino
Atualização:

Um é pouco, dois é bom, três, melhor ainda. A história começou há três anos e, de lá para cá, dezenas de encontros aconteceram em 26 cidades de todo o Brasil. Motivo, um só: espalhar a palavra. Foi daí que nasceu o projeto Você é o que Lê, um bate-papo informal sobre literatura, capitaneado pelos cronistas Gregório Duvivier, Maria Ribeiro e Xico Sá. 

Gregório Duvivier, Xico Sáe Maria Ribeiro: textos engraçados Foto: Iara Morselli/Estadão

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Paralelamente às viagens do projeto, o trio, ativo na imprensa, “finalmente tem um livro para chamar de seu”, apregoou Maria Ribeiro. Em tom de celebração, em Crônicas para Ler em Qualquer Lugar, seleta recém-saída pela editora Todavia, são reunidos textos publicados inicialmente em jornais, além de inéditos. As crônicas do livro trafegam de análises líricas sobre as diversas turbulências que o país sofre desde 2015 – políticas, sociais, morais – passando por pequenas epifanias do cotidiano, quando deslumbramentos poéticos se revelam em episódios derivados do nascimento, de paixões arrebatadoras, da dúvida constante acerca de si, da polarização política e outras tantas reminiscências que não saem da cabeça de quem acompanha o noticiário. 

É papel primordial do cronista registrar os movimentos na sociedade. Bem o fizeram. Cada qual a seu tom, os autores conversam com o leitor em jeito intimista.

Em textos como O Casal Moderno e Você Não Tinha Dor, os cronistas mexem com temas que pautam discussões comportamentais nos relacionamentos, expondo estereótipos, chistes e colocando ao leitor um espelho diante de si, até mesmo oferecendo uma carapuça – de maneira bem-humorada, claro. 

Enquanto Xico Sá pega o leitor pela mão e o leva ao terreno da sua infância, no Cariri cearense, como um sabiá do sertão, Maria Ribeiro expressa em suas crônicas reflexões íntimas sobre a vida privada (da classe média) por um olhar menos linear, mais afetivo, com digressões. Ela presta homenagem a ídolos seus, escrevendo sobre a dor em perdas recentes – do pai da bossa nova, João Gilberto, ao cozinheiro estrelado Anthony Bourdain.

Assim como Maria Ribeiro, Gregório Duvivier escreve sobre o Rio de Janeiro e não poupa duras críticas. Duvivier é quem possui a linguagem mais ferina, a expressão mais incendiária. Seu humor caustico contorna um texto mais político pincelado pelo mesmo lirismo meio gauche que o autor expôs em livros de crônicas como Put Some Farofa (2014) e Caviar é uma Ova (2016), ambos publicados pela Companhia das Letras. Em Crônicas para Ler em Qualquer Lugar ele critica a conjuntura política brasileira, a elite, mas também fala, de maneira divertida, sobre sua recente paternidade em crônicas como Papai é Uma Fraude e O Momento em que Sua Filha Percebe a Verdade sobre Você. Eles não perdem a oportunidade de zombar de si mesmos. 

Quem também discorre sobre paternidade é o camaleão Xico Sá. Ele esbanja lirismo em histórias sobre paternidade tardia como em A Mulher Mais Esperada da Minha Vida e Meu Primeiro Dia dos Pais. Sem deixar de lado o jeito boêmio que o alavancou como cronista, estão disponíveis ao leitor uma porção de textos que fazem análises divertidas do homem e da mulher modernos, feminismos e machismos, como bem fez na trilogia Modos de Macho e Modinhas de Fêmea, publicada pela editora Record. 

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Nas caravanas itinerantes, o projeto Você é o Que Lê percorreu extremidades dentro de várias realidades brasileiras. Foi ao sertão cearense, terra natal do jornalista e escritor Xico Sá, ganhou auditórios em várias unidades do Sesc pelo país – das centrais às periféricas. Subiu o Morro da Rocinha, no Rio de Janeiro, para conversar com moradores da comunidade, discutindo literatura, mas falando também daquela dura realidade vivida no cotidiano, que mais parece ficção para quem ali não vive. 

Entre aspereza e ternura, choque de realidade e poesia, o leitor encontrará boas doses da vida privada dos três figurões em mais de quarenta crônicas. Para ler em qualquer lugar, na solidão de uma escrivaninha à noite, em um ônibus a caminho do trabalho, num boteco do bairro ou enquanto se espera no consultório do dentista. Os cronistas cumprem sua missão, correspondendo ao mote defendido por outro cronista experiente, Ivan Ângelo, a respeito da crônica “A crônica é o espaço em que o escritor transita pelo cotidiano, discute eventos, opina, reivindica, ironiza, evoca, conta casos, experimenta escritas, expõe emoções. ” 

Matheus Lopes Quirino é jornalista.

CRÔNICAS PARA LER EM QUALQUER LUGAR. AUTORES: GREGÓRIO DUVIVIER, MARIA RIBEIRO E XICO SÁ. EDITORA:  TODAVIA. 112 PÁGS., R$ 44,90

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