Livros digitais e comércio online mudam padrões no mercado editorial

Leitores analógicos que aderem aos e-books passam a ler entre 3 e 4 livros a mais, diz Amazon

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Por André Cáceres
Atualização:

Havia pelo menos uma livraria em 35,5% dos municípios do Brasil em 1999, número que caiu para 27,4% em 2014. Enquanto isso, 57,5% dos domicílios tupiniquins têm acesso à internet. Os dados são todos do IBGE. Resultado: mais pessoas podem comprar livros pela internet do que indo à livraria da cidade. (Vale lembrar que 97,1% dos municípios têm ao menos uma biblioteca, mas nem sempre com acervos amplos.) “O livro digital aparece justamente para resolver essa deficiência, porque as pessoas que não são atendidas por uma livraria têm acesso a qualquer livro em menos de um minuto”, afirma Ricardo Garrido, gerente-geral de aquisição de conteúdo para Kindle.

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Da mesma forma que a falta de internet priva uma parcela da população de determinadas experiências, seu acesso acaba por inaugurar possibilidades. Foi assim que o livro Mais Leve que o Ar (Ed. Lote 42), de Felipe Sali, saiu do mundo digital para chegar às prateleiras físicas. “Eu mandava para editoras e elas não apostavam no projeto. O Wattpad foi uma foi uma última cartada”, conta o escritor de 25 anos que virou fenômeno em um site em que autores independentes podem publicar suas obras em capítulos e receber imediatamente as opiniões dos leitores. 

“Escrever um livro é contar uma piada e esperar três anos para que as pessoas riam”, brinca Sali, comemorando o feedback rápido que a publicação digital permite. Ele cita o também jovem autor Raphael Montes (Suicidas, Jantar Secreto), para quem o Wattpad é “o folhetim moderno”. Para romper a barreira do anonimato e se destacar entre tantos aspirantes ao estrelato, é necessário, de acordo com Sali, “escrever bem, porque você é seu próprio editor, ser ativo na comunidade, nas redes sociais, e entender qual é seu público alvo”. 

Para Garrido, a queda no número de livrarias no País não tem relação com o surgimento das publicações digitais. “O sufocamento das livrarias físicas é um fenômeno que antecede o Kindle e a internet. Se você olhar dados de 20 anos atrás, é um fenômeno que tem muito mais a ver com a urbanização do que com o impacto do livro digital”, defende Garrido, que acredita que o deslocamento dos consumidores dos centros das cidades para os shopping centers e a consequente formação de megastores seja o verdadeiro motivo do recuo das livrarias. 

Para Daniel Mazini, diretor para livros impressos da Amazon, o comércio online tem a vantagem da “prateleira infinita”, incluindo, dessa forma, editoras independentes e de nicho. “A gente vê o consumidor reagindo a isso, consumindo cada vez mais títulos que não são tão populares”, informa, ecita o exemplo de editoras de nicho como a Darkside, que começou com livros de terror e angariou uma grande quantidade de fãs nas mídias sociais. “Ela nos trouxe uma relevância maior do que muitas editoras tradicionais”, revela. 

Outro case é o site Pipoca e Nanquim, que cobre quadrinhos e tornou-se afiliado da Amazon, recebendo comissões mediante as compras de seus leitores. Com o dinheiro, os sócios Alexandre Callari, Bruno Zago e Daniel Lopes – que adquiriram o know-how trabalhando na Panini – criaram uma editora que já publicou duas HQs internacionais e deve lançar a adaptação de Moby Dick por Chabouté em agosto. Para Lopes, sem a internet, a editora “sem dúvida não existiria”.

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