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Maior feira de arte holandesa, Tefaf se torna evento central também em Nova York

Evento aposta em obras de artistas modernos e contemporâneos, como Pablo Picasso, Lygia Clark e Paul Klee

Por Jason Fargo
Atualização:

Feiras de arte costumavam ser principalmente vitrines comerciais voltadas para um público especializado e poucas eram mais consolidadas e exclusivas quanto a Feira Europeia de Belas Artes (Tefaf) – que todo mês de março ainda atrai diretores de museus e colecionadores milionários a Maastricht, no sul da Holanda. Hoje as feiras são realizadas durante todo o ano e se tornaram um festival global de vendas. A Tefaf tem duas “crias” em Nova York: uma edição de outono, focalizada em arte mais antiga, e outra de primavera, voltada mais para o moderno.

'Selbstbildnis' Self-Portrait' (1913), de Ludwig Meidner, e 'Femme assise dans un fauteuil' (1941), de Pablo Picasso, na galeria Luxembourg & Dayan Foto: Mark Niedermann

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Em três anos, a Tefaf New York Spring, que terminou dia 7, evoluiu de uma simples experiência para um marco obrigatório no comércio de arte, com peças mais sofisticadas que as da maioria de suas rivais nova-iorquinas. Embora galerias de arte moderna dominem essa feira de primavera, a Tefaf New York é enriquecida por marchands de mobília, antiquários e joalheiros que expõem exuberantes brincos e diademas. A Tefaf também é única entre as feiras de arte por seu rigoroso processo de avaliação, com dezenas de especialistas esmiuçando os estandes para autenticar as mercadorias em oferta. 

Muitos marchands fizeram de seus estandes espaços de um só artista (a galeria Pace ocupou o seu com obras de Jean Dubuffet); de exposições regionais (na Gladstone Gallery, todo o estande era brasileiro, incluindo esculturas de Sérgio Camargo e móveis da arquiteta Lina Bo Bardi, que projetou o Masp de São Paulo); ou de miniexposições temáticas (na Sprüth Magers, todas as obras eram de mulheres, retratando os anos 1980 e com fundo político). 

Aí vão alguns destaques que marcaram a edição da Tefaf New York Spring. 

Estandes 347 e 371 ( David Zwiner e David Tunick, Inc). 

Se você for pintor ou escultor e está tentando convencer uma galeria a representá-lo, talvez o melhor seja tentar morrer. Ultimamente, as grandes galerias têm se acotovelado para representar o legado de artistas mortos. No mês passado David Zwirner conseguiu um peso-pesado: Paul Klee, o modernista suíço-alemão e professor na Bauhaus.

Zwiner comemorou a conquista com um estande exclusivo de Klee, cheio de capciosas pequenas aquarelas como Signs in the Field (1935), com sua alegremente inescrutável nuvem de hieróglifos, elipses e olhos. Mas o melhor de Klee na feira estava no estande de David Tunick, especialista em gravuras e desenhos, onde foi possível encontrar um retrato demolidor de 1923 da soprano Lili Lehmann, de olhos arregalados e à deriva num mar bege. Klee fez a obra com uma mistura única de óleo e aquarela, e suas linhas econômicas e espirituosas fazem-no parecer quase um dublê cômico de seu imponente Angelus Novus.

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Estande 301 ( Helly Nahmad Gallery)

Embora a arte na feira tivesse grandes variações de preço (em relação à arte contemporânea, a antiga parece um roubo), a Tefaf não é definitivamente uma feira para caçadores de pechinchas. Mas, mesmo aqueles com poucos dígitos na conta bancária puderam apreciar trabalhos de cubistas como Picasso, Braque, Gris e Léger dos últimos anos anteriores ao renascimento da pintura figurativa nos anos 1920, conhecido como “rappel à l’ordre” (chamado à ordem). 

Uma natureza-morta com guitarra, de Gris, pintada em 1916 e apresentada em 2013 num leilão, reapareceu na feira: mais legível e mais sensual que os quebra-cabeças cubistas dos primeiros anos do artista, ela delineia as superfícies de uma sala, uma mesa e o instrumento. 

Estande 211 (Luxembourg & Dayan)

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O principal espaço Tefaf é o grande Drill Hall do Armory, mas muitas das agradáveis surpresas da feira ficaram no andar de cima, nas exuberantes salas Renaissance Rival. Essa parte gratificante consiste integralmente de retratos, incluindo dois expressivos trabalhos da era Weimar: uma pintura de Otto Dix mostrando um pintor seu amigo que olha ansiosamente para um ponto a meia distância e uma obra, ainda melhor, de um colega menos conhecido de Dix, Rudolf Schlichter. É um retrato da atriz esquerdista Carole Neher, de cabelos curtos e lábios franzidos numa careta nervosa. (Neher, trotskista, morreria num campo de trabalhos forçados soviético.) Os dois retratos levam etiquetas com comentários de Urs Fischer, Piotr Uklanski e Rudolf Stingel. 

Estande 373 (Donald Ellis Gallery)

A feira exibiu também antiguidades egípcias, estatuária africana e – no estande deste proeminente especialista – arte indígena da América do Norte. Ali era possível ver uma vasilha da etnia tinglit em forma de animal, desenhos em tecido das Planícies Centrais e uma dominadora máscara yup’ik adornada de penas , datada de cerca de 1900 e atribuída a um artista chamado Ikamrailnguq (“o sem trenó”). 

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Estande 101 (Salas Históricas do 1º andar): Friedman Benda

Uma das mais importantes seções de design nesse espaço foram as mobílias biomórficas de Wendell Castle, criador da chamada “arte a partir de móveis”. São cadeiras, escrivaninhas e bancos baseados em formas humanas, produzidos dos anos 1960 até a morte do artista, no ano passado. Uma cadeira de balanço esculpida em carvalho manchado, de 1962, parece tão aerodinâmica quanto um bobsled (trenó de corrida); um banco de madeira com dois assentos inclinados foi feito com a ajuda de computador, em 2015.  Castle não é o único designer de mobília com um olho na tecnologia. No estande da galeria francesa Vallois havia um protótipo de escrivaninha de 1934 do designer art deco Jacques-ÉmilieRuhlmann feito da com a mesma liga de alumínio usada em aviões. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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