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Museu Smithsonian reúne material para criar uma história oral de 2020

Desafio da instituição é preservar para o futuro este momento de pandemia e de protestos

Por Julia Carmel
Atualização:

Enquanto a pandemia se instalava na primavera do Hemisfério Norte, historiadores e curadores dos Smithsonian Archives of American Art começaram a fazer o que fazem melhor: olhar o mundo através das relíquias da história.

Encontrando escassas informações relacionadas à pandemia da gripe de 1918 em seus arquivos, decidiram garantir que os historiadores futuros tenham um material muito mais amplo a respeito desta época do novo coronavírus. Para tanto, uma equipe dos Arquivos, chefiada por Liza Kirwin, a diretora interina, começou a montar um registro completo para a posteridade.

O artista Mark Bradford em Los Angeles Foto: Erik Carter/The New York Times

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No começo deste ano, curadores e historiadores orais dos arquivos realizaram uma série de entrevistas na Zoom com 85 artistas, com o objetivo de criar o Projeto de História Oral da Pandemia. A primeira rodada de entrevistas, que inclui artistas como Ed Bereal e Sheila Hicks, foi divulgada na segunda-feira.

“Começou exatamente no início de maio, quando nós estávamos refletindo sobre a covid-19”, contou Ben Gillespie, estudioso de secretariado do centro de arte Arlene and Robert Kogol para a história oral. Depois, com a notícia dos assassinatos de Breonna Taylor e George Floyd, acrescentou: “Também chegamos à conclusão de que este é um momento importante da história americana que devia constar”.

Há muitas coisas que representam 2020 – objetos diversos, coisas valiosas relacionadas à pandemia, fotografias que estão sendo colecionadas por muitos ou postadas na mídia social - mas este projeto oferece ainda uma garantia: Os registros terão de durar.

O projeto é algo inusitado para um grupo de arquivistas que costumam trabalhar com entrevistas longas, em profundidade, com a qualidade de documentários que mergulham no passado – estas sessões estão todas no Zoom e duram de 20 minutos a uma hora. Mas trabalhar rapidamente para preservar o presente também permitiu à equipe enxergar este ano com outros olhos.

“Eu senti como se o tempo estivesse se desenrolando completamente”, disse Gillespie. “Foi como se a história não existisse mais, e eu estivesse rodando em um éter amorfo”.

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Josh Franco, colecionador nacional para os arquivos, disse que, como costumava trabalhar com artistas mais velhos, procurar entre as coleções particulares e os estúdios com o propósito de encontrar momentos que valesse a pena preservar, este projeto ofereceu um desafio muito oportuno.

“Nós compreendemos que o que estamos fazendo é um registro, e isto tem algo a ver com o grande arco do tempo”, disse Franco, “mas também ele ocorre exatamente neste momento – as pessoas falando e pirando juntas”.

Mark Bradford, um artista contemporâneo de Los Angeles, que participou do projeto, passou parte de sua entrevista comparando este ano a uma enorme tormenta.

“É como um dilúvio”, falou Bradford em seu vídeo. “E você sabe que está correndo pela rua, está se molhando e depois de repente você corre embaixo de alguma coisa, e fica ali por um minuto?"

”Às vezes, olha para a esquerda, e há alguém com você. E você pergunta: ‘O que está fazendo?’ Então conversa um pouco”.

Lisa Kirwin disse: “Para mim, essa foi uma metáfora de todo o projeto”.

“Foi como agachar-se embaixo de um toldo com pessoas e ter uma espécie de conversação rápida”, ela explicou, “sabendo que ao seu redor há uma chuva torrenciale que todo mundo vai se molhar. Mas as pessoas tiveram este momento em que puderam conectar-se”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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Veja alguns vídeos do projeto (em inglês)

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