Nem tão negro assim

Barack Obama convoca o furacão Oprah Winfrey na tentativa de superar o favoritismo de Hillary Clinton

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Logo que passar o réveillon, já no dia 3 de janeiro, terá início a temporada de primárias dos Partidos Democrata e Republicano, nos EUA. É uma maratona que se estende até princípios de junho, pela qual os partidos decidem quem serão seus candidatos na disputa presidencial. O campo ainda está aberto e, a se fiar nas pesquisas, pelo menos três candidatos em cada partido têm chances de ser o escolhido. "Pelo menos uma questão já faz desta uma eleição histórica", diz o professor Vincent Hutchings, da Universidade de Michigan. "Em um dos partidos, os favoritos são uma mulher e um negro." Hutchings é negro e especialista em duas áreas no que tange à política americana: a participação dos negros em campanha e a percepção que os eleitores têm dos candidatos. No campo democrata, até um mês, a senadora Hillary Clinton parecia imbatível. Ela continua à frente, mas seu par no Senado, Barack Obama, está ameaçando e é a maior sensação do momento nesta campanha. Agora, ele traz uma arma nova: Oprah Winfrey, negra como ele e a apresentadora mais popular da televisão americana. Juntos, vêm trazendo multidões aos comícios. "Ninguém tem como prever o que acontecerá no final", diz Hutchings, que analisou para Aliás os principais candidatos de cada um dos partidos e o atual momento desta disputa eleitoral. A seguir, trechos da entrevista. Barack Obama "O crescimento recente de Barack Obama não se deve apenas ao fato de ele ter o apoio de Oprah. O senador é atraente por ser novo, seu currículo impressiona e ele foi um dos primeiros a se manifestar contra a Guerra do Iraque, que é muito impopular. Para o eleitor, ele parece ser a alternativa mais convincente à candidata que está em primeiro, Hillary Clinton. O fato de ser novo ajuda, já que ele tem mais facilidade de argumentar que sua candidatura representa mudança. Eleitores do partido que não está no poder, caso dos democratas, costumam buscar alguém que represente essa mudança. Questão racial "Houve avanços na situação dos negros nos EUA e o fato de uma mulher como Oprah Winfrey poder fazer o sucesso que faz é evidência disso. Mas a distância de renda entre brancos e negros permanece a mesma nos últimos 50 anos. A questão racial continua a dividir opiniões no país. No caso de Obama, ele tem a sorte de não ser um negro típico. Filho de uma americana branca e de um imigrante africano, ele não tem nenhuma ligação com o movimento pelos direitos civis dos anos 60. Para os eleitores brancos, isso é importante. Ele é o primeiro candidato negro com chances de vencer por ser o primeiro no qual eleitores brancos se dispõem a votar. Hillary Clinton "Hillary é uma pessoa importante na esfera política nacional desde 1992. Em parte por estar em evidência há tanto tempo, ela se tornou uma figura polarizadora. Há muitos que gostam dela e muitos que a odeiam. Outra questão é que ela é mulher. Muitas pessoas têm problemas com isso. Nunca tivemos uma mulher candidata que fosse a favorita em nenhum dos partidos. Ainda não está claro qual o critério que os eleitores escolherão na hora de votar. O que as pesquisas indicam é que, se forem levar em conta a capacidade de vencer o candidato republicano, a percepção é de que Hillary seria a melhor pessoa. Anos 60 "Muitos não gostam de Hillary por conta de sua relação com os anos 60. Foi uma década que dividiu o país, por conta de como as pessoas se posicionaram no que tange à Guerra do Vietnã e aos direitos civis. Muitos dos eleitores de hoje na época eram crianças ou não tinham nascido, então essas questões antigas não os atingem. Mas outra parcela de eleitores ainda reage com posições fortes, para um lado ou para o outro. John Edwards "O senador, que foi candidato a vice-presidente na última eleição, continua na disputa. Ele está muito bem cotado em pelo menos dois dos primeiros Estados a escolher seu candidato, Iowa e Carolina do Sul. Edwards é conhecido, embora exista receio quanto a sua falta de experiência, já que serviu apenas um mandato no Senado. Suas propostas não parecem estar ressoando entre o público. Ele é o candidato mais à esquerda dos três líderes democratas, já que é quem mais fala em enfrentar a desigualdade econômica, o que é um tema controverso nos EUA. Mike Huckabee "No lado republicano, Huckabee, um ex-governador do Arkansas, é a maior surpresa do momento. Ele veio do nada e tem crescido muito. Pode ganhar em Iowa e na Carolina do Sul. Os eleitores ainda estão começando a conhecê-lo, porque inicialmente ele não era visto como um dos principais candidatos. Em princípio, gostam dele, consideram-no carismático, mas ainda sentem uma certa desconfiança, não sabem o que ele realmente representa. Rudolph Giuliani "O ex-prefeito de Nova York é o primeiro colocado entre os republicanos, mas vem perdendo muito apoio nas últimas semanas por conta de vários escândalos que saíram na imprensa. Ele também não segue a linha política média de seu partido, da qual se distancia em questões como controle da venda de armas e aborto. Conforme mais eleitores percebem suas posições liberais, mais se afastam dele. Mitt Romney "O maior problema de Romney, um ex-governador do Massachusetts, é sua religião. Ele é mórmon. É uma religião que tem muito poucos seguidores nos EUA, então muitos ficam desconfiados. Há muita intolerância religiosa no país. Ele esteve bem nas pesquisas, mas parece ter parado de crescer. Futuro da disputa "Vencer a eleição presidencial será muito mais difícil do que ser escolhido candidato. Nessa fase de primárias,poucos prestam atenção. Na eleição nacional, os candidatos ficam mais expostos. O ano começará ruim para os republicanos, mas isso não quer dizer que esta eleição será fácil para os democratas."

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