Nem toda celebridade é loura

AMBULATÓRIO DA NOTÍCIA - Unidade de tratamento para quem sai mal na foto

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Por Tutty Vasques
Atualização:

A mudança de estilo na campanha de John McCain, ao comparar Barack Obama à cantora Britney Spears e à socialite Paris Hilton, não teve a intenção de desqualificar o candidato democrata por sua vocação para celebridade internacional, como a princípio tentaram sustentar os marqueteiros responsáveis pela propaganda republicana no ar desde terça-feira. Se assim fosse, por razões óbvias, teriam escolhido Naomi Campbell para o papel, sem qualquer prejuízo - muito pelo contrário - à estratégia de se atacar a semelhança de Obama com os protagonistas do mundinho vazio e fútil da fama artificial. Britney e Paris foram eleitas por conta do brilho de seus cabelos sob holofotes, ou seja, McCain está chamando o adversário de loura. Por incrível que pareça, há uma explicação lógica para isso: no mundo politicamente correto que a sociedade americana globalizou, só as louras continuam vulneráveis às armas letais do preconceito e do racismo. Pode-se chamá-las de burras, insossas, avoadas, inconseqüentes, bonequinhas, fozazudas, e fica por isso mesmo. Algumas até gostam. Mas negros, nerds, velhas gordas, gays esquisitaços, mulçumanos, cheerleaders, go go girls, homeless, rainhas de bateria, candidatos fichas-sujas, flanelinhas, serial-killer, gagos ou carecas, todos, enfim, menos as louras, estão devidamente protegidos por lei contra este tipo de nomenclatura. Experimenta só chamar um veterano de guerra maluco, em Nova York, de "veterano de guerra maluco" para ver só o que acontece. Se ele não te furar os olhos, te põe em cana. McCain é muito mais que tudo isso. É herói de guerra. Não merecia, à esta altura da vida, com uma mulher rica pra caraca, herdeira da Budweiser -imagina! - ter que enfrentar um adversário negro, jovem, conciliador, bonito, carismático, anti-Bush, uma espécie de Jair Rodrigues de Harvard, enfim, o cara. Justiça seja feita, o candidato republicano tentou fazer as coisas por bem, pagando inclusive aquele mico de passear de mãos dadas com dalai-lama no resort turístico de Aspen, no Colorado. Nunca na história do Tibete um líder espiritual deu uma contribuição tão pífia a alguma causa importante. Foi aí que um tal de Steve Schmidt, estrategista da campanha de McCain, deu a idéia de chamar Obama de loura. Resultado: o candidato democrata, aqui repaginado com a cabeleira de Paris Hilton pelo artista gráfico Pojucan, ficou uma gracinha. Quem sabe as louras não tirem daí exemplo de luta pelos seus direitos de ser humano como outro qualquer. Quantos já não governaram os EUA com menos de um neurônio, né não? Quase seis por menos de meia dúzia O carioca está dando tiro pro ar de alegria. A Polícia Militar do Rio resolveu trocar fuzis por carabinas. Isso quer dizer o seguinte: o raio de ação da bala perdida vai cair em 200 metros. Se, antes, recomendava-se manter 600 metros de distância dos camburões, em breve todo mundo estará seguro no asfalto a 400 metros das viaturas. Não é nada, não é nada... O fuzil, doravante, será praticamente arma de uso exclusivo da bandidagem, o que também deve obrigar o criminoso a manusear o trabuco com mais cuidado. Até porque não poderá, como de hábito, culpar a polícia por balas perdidas deste calibre. Ou seja, neguinho vai começar a matar com mais responsabilidade. A mudança anunciada esta semana pelo secretário de Segurança José Mariano Beltrame foi, em geral, muito bem recebida pela sociedade. Deve ter agradado, em especial, aos vendedores de carabina .30, campeã dos 400 metros rasos. A aquisição das armas deve acontecer no final de agosto, e é bom parar por aqui, antes que alguém diga que o Lulinha tá na parada. Ô, raça! Vidão O técnico Joel Santana está de novo de folga no Brasil. Disse a amigos que, de primeira classe, a África do Sul não é mais longe que Bangu.

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