
21 de setembro de 2019 | 16h00
Prêmio Nobel de Literatura em 1952, o escritor francês François Mauriac teve seu ensaio O Filho do Homem (de 1936) publicado pela primeira vez no Brasil em 1962, pela editora Agir, hoje propriedade de Nova Fronteira, que reedita a obra. A tradução é de Teresa de Araújo Penna, nas duas edições. Nascido em 1885, na cidade de Bordeaux, já então conhecido por seus romances, firmava-se na opção por produções de caráter reflexivo-religioso, inspirado pela espiritualidade de autores como Pascal e Paul Claudel. Em 1936, às vésperas de estourar a 2ª. Guerra, Mauriac lançou Vida de Jesus. Ao escrever essa biografia, impressionou-se com os “traços marcantes” de Cristo, de Nazaré ao monte Calvário, conforme revelaria em O Filho do Homem.
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Mauriac foi autor capaz de um “mergulho instantâneo na superfície espessa da consciência”, escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade, que traduziu e prefaciou um dos livros do autor, o romance Thérèse Desqueyroux. Na avaliação do crítico literário Otto Maria Carpeaux, foi “o maior representante do romance psicológico de tradição francesa”. Esses elogios contribuíram, com certeza, para a Nova Fronteira relançar, depois de 61 anos, a segunda edição de O Filho do Homem. “Conjugando a temática religiosa com uma sensibilidade acima da média, a obra retorna agora às livrarias como parte da coleção Clássicos de Ouro”, justifica a editora sobre a edição especial e limitada.
São seis capítulos nos quais Mauriac enumera, em ordem cronológica, os temas de suas reflexões sobre o Deus que se fez homem. “Os mistérios sucedem-se como numa segunda narrativa implícita no que cala o texto bíblico: o mistério da infância de Jesus, os 30 anos de ‘uma vida oculta’, o mistério da cruz, o corpo místico, o mistério do sacerdócio”, escreve a escritora e crítica literária Mariana Ianelli. E mais: “Mauriac procura no homem aquele reduto da alma frequentemente esquecido e que, no entanto, existe par a par com a realidade”.
De Belém à ressurreição, Jesus, que é Deus, mostra sua face humana àqueles que o procuram. Mauriac reconhece, em sua busca, os traços marcantes do filho do homem do menino da gruta de Belém, o jovem operário de Nazaré, o mestre que prevê e aceita a morte na cruz, o evangelizador que prega o amor e o perdão, a força de Cristo nas primeiras comunidades cristãs e – uma reflexão surpreendente do autor – o sacerdote como um alter Christus, outro Cristo – que perpetua na eucaristia a presença de Jesus pela transformação do pão e do vinho em seu corpo e sangue.
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