Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi CINEASTAS A produção de filmes nacionais nunca foi tão reverenciada. Cinco brasileiros estão em competição em Cannes: Ensaio sobre a cegueira, de Fernando Meirelles, A festa da menina morta, de Matheus Nachtergaele, Linha de Passe, de Walter Salles, O som e os restos, de André Lavaquial, e Mistério do Samba, de Carolina Jabor e Lula Buarque. Os olhos do mundo voltam-se sobre esta produção e ecoam aqui, fazendo com que os cineastas nacionais sintam-se recompensados estética e moralmente, apontando um futuro promissor. Vivemos um marco na história cinematográfica brasileira. Resultado do trabalho da nossa indústria que, além de competente tecnicamente, é inovadora na linguagem e nos temas. O mais importante é que esse reconhecimento também acontece aqui. Títulos brasileiros alcançam grandes bilheterias, enquanto filmes de linguagem surgem de várias regiões e garantem diversidade e inovação. Mas há quem diga que o brasileiro não gosta de filmes nacionais. Como então explicar o fato de que a sala de cinema com a maior taxa de ocupação do País há quase quatro anos seguidos é o Cine Tela Brasil, uma sala popular que leva somente cinema brasileiro, de graça, para a população das periferias? O tapete vermelho de Cannes também está estendido lá, por onde passam cidadãos de sandálias e chinelos, lotando a sala em todas as sessões. O desafio continua sendo popularizar o acesso. Talvez um ticket cultura na cesta básica ou no bolsa família ajudasse mais gente a consumir o biscoito fino que é o cinema nacional. Parabéns aos que estão em Cannes! Não por ufanismo, mas pela alegria de saber de que muita gente vai poder ver filme brasileiro.