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O probo, o reto e o ilibado

Por Tutty Vasques
Atualização:

Ainda que o Aurélio o considere "verbete inexistente", agripino, segundo o Houaiss, é adjetivo. Diz-se de parto "em que a criança apresenta primeiro as nádegas". Nada a ver, pelo menos não no sentido figurativo, com a expressão "nascer com o bumbum virado pra lua". Agripino, em linguagem técnica de obstetra, não denota sorte na vida. Ao contrário, é um problema - pra não dizer azar de quem se vê na situação. Nem precisa ser especialista no assunto para perceber que "criança nascida pelos pés contra o natural" requer cuidados especiais. Em matéria de parto, definitivamente, agripino não é normal. Agripino, no sentido parlamentar da expressão, também é adjetivo de político que mete os pés pelas mãos. Vale um acréscimo no verbete do dicionário do mestre depois que José Agripino Maia evocou as mentiras que Dilma Rousseff confessou no pau-de-arara da repressão para duvidar da palavra da ministra. Aquilo foi como um carrinho por trás aos três minutos do primeiro tempo com a bola no campo de ataque da oposição, junto à bandeirinha de corner. Está dando para entender melhor agora o que é Agripino? José Agripino Maia é líder do DEM no Senado e um dos expoentes da oposição ao governo Lula. Forma com os tucanos Arthur Virgílio e Álvaro Dias uma espécie de Santíssima Trindade da moralidade pública no Congresso: o probo, o reto e o ilibado, não necessariamente nessa ordem. Coube-lhes a tarefa - quando não o mico - de verbalizar a indignação das massas que as pesquisas de opinião não aferem. Se dependesse deles, o governo cairia todos os dias e, com essa perspectiva, Agripino, Virgílio e Dias apostam corrida pra ver quem dará o empurrão definitivo. Foi neste afã, imagina-se, que o democrata potiguar de pêlos castanhos tomou a frente para tascar aquela tesoura voadora na Dilma. A coisa foi tão violenta e gratuita que o próprio Demóstenes Torres, correligionário goiano de Agripino, comentou que ele "só podia estar dopado" ao dizer as barbaridades que disse para a ministra. Pode ter até aspirado um pouco mais de laquê que de costume, mas não é isso que faz da oposição uma droga no Brasil. A overdose de denúncias mal formuladas é o que mata seus melhores quadros de vergonha. Os homens de idéias alternativas ao governo estão entocados, provavelmente receosos de uma cotovelada ou um pisão dos companheiros da frente oposicionista de ocasião. Depois que José Agripino deu entrada no "Ambulatório da Notícia" com escoriações generalizadas - dizem que até o Jorge Bornhausen meteu-lhe uns cascudos após a sabatina da Dilma -, a fogueira das vaidades oposicionistas cresceu no ninho tucano. O manauara Arthur Virgílio não se conforma com os holofotes que vazaram junto com o tal dossiê sobre o colega paranaense Álvaro Dias. Suspeita que o documento tenha saído da Casa Civil com endereço errado. Não vai descansar enquanto não punir o responsável pelo engano. Era a vez de ele brilhar! Não à toa, Lula está adorando ser o dono da situação. A primeira pista Se você tem a impressão de que já conhecia de algum lugar o promotor Francisco Cembranelli, do caso Isabella, fica aqui uma pista: acho que o vi num livro do Rubem Fonseca. Aposto que o doutor carrega antiácidos no bolso do paletó. Não, ele não é o comissário Mattos de Agosto. O olhar é diferente, repara só! Herança mineira Apareceu um José Aparecido no caso do dossiê. Isto quer dizer o seguinte: esta história vai acabar respingando injustamente no Ziraldo. O José Aparecido que ele chamava de "o melhor mineiro do mundo" é outro. Político, ministro, embaixador e jornalista, José Aparecido de Oliveira morreu em outubro de 2007 e, de comum com José Dirceu, só tinha o sobrenome Oliveira. O que não quer dizer nada. O Ziraldo é Pinto e, no entanto, ... Arsenal lambão No Brasil, como se sabe, uma lambança lava a outra, mas os índios de Roraima terão de fazer uma das grandes para limpar a barra do líder arrozeiro Paulo César Quartiero. Não bastassem os nove índios baleados em suas terras, o fazendeiro deixou à espera da PF um paiol lambão da pesada: tubos de papelão, pólvora, naftalina, Bombril, arame fino, tubos de PVC, alumínio, prendedor de roupa, fio de metal e veda-rosca. Foi preso pra deixar de ser doido. Pastor de porco As imagens impressionantes da preleção que o comandante Vanderlei Luxemburgo fez aos jogadores do Palmeiras antes da final do Paulistão mobilizaram as lideranças da Igreja Universal do Reino de Deus. A maioria está convencida de que, no dia em que o técnico virar pastor evangélico, como prevê Nostradamus, não vai sobrar fiel pra mais ninguém.

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