'Palestras pontuais e atestados médicos não resolvem distúrbios alimentares'

Carta aberta ao governador de São Paulo, José Serra

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Por Redação
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Táki Athanássios Cordás COORDENADOR DO PROGRAMA DE TRANSTORNOS ALIMENTARES DO INSTITUTO DE PSIQUIATRIA DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS - FMUSP Ao contrário de epitáfios que dizem "não morreu em vão", a morte de Ana Carolina Reston e de outras meninas com anorexia nervosa, a não ser para as famílias, está relegada ao pó do sótão. O Instituto de Psiquiatria do HC possui o maior centro e a única enfermaria especializada da América Latina para o tratamento desses quadros. Quando da morte de Ana (em novembro de 2006) e da momentânea comoção nacional que causou, fomos convidados pela São Paulo Fashion Week a elaborar um projeto - pioneiro no Brasil - para o acompanhamento e prevenção dessas doenças. Não acredito em bom-mocismo. Isso apenas ocorreu porque nós, a Associação Brasileira de Psiquiatria e outros centros especializados fomos a público exigindo que a indústria da moda e as agências de modelo tomassem providências para proteger as adolescentes que querem seguir nessa carreira. Sabemos que a questão da moda é um dos fatores determinantes da doença, não o único, mas todas as pesquisas mostram que esta é uma população de elevado risco. Nossa equipe multidisciplinar elaborou um extenso programa de atendimento e apoio familiar. Tempo e dedicação foram colocados no projeto. Nunca mais fomos procurados pela SPFW. Palestras pontuais e atestados médicos não resolvem uma questão de tamanha complexidade. Senhor governador, a exemplo de políticos de outros países, como a Espanha e a Itália, sugiro que o senhor se engaje em propostas que proíbam modelos abaixo do peso recomendado pela Organização Mundial da Saúde de continuarem expostas a esse grave risco.

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