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Se der Obama, pior para McCain

Independentes que não votariam em Hillary optariam pelo rival democrata, diminuindo as chances do republicano, diz analista

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Quando traçaram o calendário eleitoral, as direções dos Partidos Republicano e Democrata, nos EUA, esperavam que, após o dia 5 de fevereiro, seus candidatos a presidente já estivessem definidos. Mais de metade dos 50 Estados já votaram em prévias - e, no lado republicano, John McCain está praticamente definido. Mas, na banda democrata, os senadores Barack Obama e Hillary Clinton disputam a corrida mais acirrada pela candidatura dos últimos cem anos. Isso não quer dizer que o Partido Democrata esteja dividido. "Eles sabem exatamente o que defendem e o que esperam do país", explica Jeffrey Toobin, 49 anos, analista político da rede de TV CNN e da revista The New Yorker. "Esse é o partido que é contra a guerra no Iraque, contra cortar impostos dos mais ricos em tempos de guerra e que vai encarar a questão do aquecimento global. Um dos problemas de Hillary e Obama, na verdade, é que muito pouco os divide." Advogado por formação, Toobin é autor de dois livros importantes, Too Close to Call, sobre o fiasco das eleições de 2000, e, mais recentemente, The Nine, a respeito da Suprema Corte. A seguir, trechos de sua entrevista ao Aliás: O senhor arriscaria prever quem será o candidato democrata? Não. Essa é a disputa mais apertada pela candidatura em um dos partidos nos últimos cem anos. A senadora Clinton é respeitada, admirada e se beneficia de marido, que é benquisto pelos partidários. Ela é considerada inteligente, trabalha duro e é muito bem informada. Já o senador Obama toca o público de uma maneira que não me lembro ter visto outro político fazer. Sou jovem demais para lembrar do presidente John Kennedy, mas o tipo de paixão que Obama desperta é algo que realmente jamais vi. Ele parece representar não apenas uma mudança geracional, mas também uma nova maneira de encarar a política. A surpresa é que, apesar disso, o Partido Democrata não está dividido. Os eleitores parecem gostar muito de ambos. É possível que as primárias terminem indefinidas a ponto de os superdelegados, executivos do partido, terem que definir o candidato? É, mas não creio. Os americanos se acostumaram à idéia de que seus votos definem o candidato e rejeitariam a possibilidade de um grupo de políticos tomar esse tipo de decisão numa sala fechada. A executiva do partido vai arranjar um jeito de definir o processo pelo voto popular. Obama e Hillary se odeiam? Ou uma chapa com ambos é possível? Não acredito que se odeiem. Eles são competitivos, estão lutando duro para vencer. Mas essa tem sido uma disputa incrivelmente limpa para os padrões americanos. Se Hillary vencer, acho, sim, possível que convide Obama para ser seu vice. No caso contrário, é mais difícil. Obama leva para Hillary votos de eleitores independentes que ela não tem. Mas Hillary não traria para a candidatura Obama novos votos. Isso faz do senador um candidato melhor contra John McCain? Essa capacidade de atrair eleitores independentes não compromissados nem com um partido nem com outro é seu melhor argumento. Obama é um candidato mais forte contra John McCain. Pode até ser injusto, mas muita gente não votaria em Hillary Clinton. Quais as chances de McCain? Ele tem um problema duplo. Muitos eleitores independentes acreditam que só conseguiu se tornar candidato porque se vendeu para o lado conservador do Partido Republicano. Já os conservadores não confiam nele. Evidentemente que isso não quer dizer que ele vá perder a eleição. Mas, se eu tivesse que fazer uma previsão, diria que as chances de vitória democrata são muito maiores. O número de filiados ao Partido Democrata votando nas primárias é muito grande. Seus eleitores estão incrivelmente motivados e, pela primeira vez em décadas, angariaram mais dinheiro para a campanha que os republicanos. Só não podemos esquecer nunca que os Estados Unidos elegem mais presidentes republicanos que democratas. Por quê? Porque é um país conservador. O partido à direita tende a vencer com mais freqüência. O que aconteceu com o Partido Republicano? Está desmoralizado e confuso a respeito daquilo que representa. Se já não bastasse isso, tem de lidar com a herança de um presidente que é extremamente impopular em toda parte, menos no coração de seu partido. Um dos problemas de McCain é que ele venceu as primárias procurando ser muito mais parecido com George W. Bush do que ele jamais foi. Isso será ruim na eleição geral. Existe a possibilidade de eleitores republicanos migrarem para o Partido Democrata? Um dos tipos tradicionais republicanos é aquele eleitor que está particularmente interessado em impostos baixos e quer o governo longe da vida privada. Esse é um típico americano que vive nos subúrbios e, hoje, é muito simpático ao Partido Democrata. Esses eleitores não ligam muito para assuntos como casamento homossexual e proibição do aborto, temas caros à direita cristã republicana. Os republicanos correm o sério risco de perder esse eleitor. A Suprema Corte define questões como aborto e casamento homossexual e vem se tornando mais conservadora. Isso pode mudar? Dependerá de quem vencer as próximas eleições. O presidente eleito provavelmente indicará três novos juízes para a Suprema Corte. Se um republicano vencer, o aborto provavelmente voltará a ser ilegal nos Estados Unidos. Muitos democratas reclamam que a Suprema Corte ficou muito mais ideológica que técnica nos últimos anos. É verdade? Sempre foi ideológica. Acontece que, hoje, as pessoas falam com mais franqueza a esse respeito. Essas questões de costumes interessam a muita gente à esquerda e à direita. Está no cerne da discussão política americana há muitos anos. A questão dos direitos gays é mais recente. Os americanos mais jovens foram, em sua maioria, criados num mundo no qual ser gay não é problema. A igualdade de direitos os motiva particularmente. Mas a direita cristã é igualmente motivada no caminho oposto. O país está muito polarizado? O governo Bush foi muito polarizante. Parte da paixão que a candidatura Obama levanta vem da raiva e desespero motivados pelo atual presidente em alguns setores da sociedade. O governo de Bill Clinton também dividiu, mas seja para melhor, seja para pior, não confrontou tanto. Não houve guerras, por exemplo. O país está dividido e não é à toa que as últimas duas eleições presidenciais foram tão apertadas. Mas não acho ruim o país estar polarizado. TERÇA, 5 DE FEVEREIRO Rumo aos playoffs Os democratas Hillary Clinton e Barack Obama terminaram tecnicamente empatados na Superterça, na corrida que define os candidatos à Casa Branca. No lado republicano, com a desistência de Mitt Romney, John McCain se garante como candidato.

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