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'Uma Noite com Sabrina Love', a estreia literária de Pedro Mairal, chega ao Brasil

Escritor argentino foi alçado ao sucesso após vencer concurso do jornal 'Clarín' e cair nas graças até de Adolfo Bioy Casares

Por João Prata
Atualização:

A vida do argentino Pedro Mairal pode ser dividida em antes e depois de Uma Noite com Sabrina Love. Em 1998, ele tinha 28 anos, era professor adjunto de literatura e autor independente. Da noite para o dia se transformou em celebridade por causa da Sabrina Love. A dificuldade em juntar dinheiro para o casamento deu lugar a uma agenda repleta de compromissos, aparições em programas na TV, ensaios fotográficos e a possibilidade de passar a lua de mel na Grécia. 

Cena do filme 'Uma Noite com Sabrina Love' (2000) Foto: Buena Vista

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A mudança abrupta na rotina de Mairal veio graças à vitória no concurso de literatura do jornal Clarín. Ele superou 800 concorrentes, faturou US$ 50 mil e no dia seguinte à conquista viu sua foto na capa do principal jornal do país. Foi desses sucessos arrebatadores, de o autor passar a ser reconhecido na rua, de aparecer nas capas dos principais suplementos literários do país e de vender os direitos da obra para o cinema – o filme saiu em 2000, dirigido por Alejandro Agresti. No posfácio da edição brasileira, publicada pela Todavia, há uma crônica do autor em que ele conta um pouco sobre a guinada que o prêmio deu em sua vida.

“Meu livro é vendido até em bancas de revistas. Desprestigiaram Roberto Arlt dizendo que era um escritor de banca. A mim parece grande feito. Um dia, perto do Natal, subo pela escada de um shopping e lá está Papai Noel com um menino nos joelhos. De repente ele me vê e aponta pra mim. Hesito, mas o dedo me segue. Sou tomado por um terror infantil. O que fiz de errado? Se o Papai Noel te aponta é porque você fez algo errado. Agora todos os papais-noéis do mundo vão querer me matar. Em seguida ele sorri e levanta o polegar. Papai Noel me reconheceu.”

Apesar de ser a estreia de Mairal na literatura, Uma Noite... é o segundo romance dele que é publicado no Brasil pela Todavia. No ano passado, a editora traduziu A Uruguaia, outro best seller do autor. Ambos são um “road movie” de prosa leve e narrativa precisa. Para resumir em um tuíte: é livro para ler em uma sentada.

O primeiro romance do autor conta a história de Daniel Montero, adolescente do interior da Argentina que ganha o sorteio em um programa de televisão pornô. O prêmio é passar a noite com a atriz e apresentadora Sabrina Love. Sem um tostão no bolso, ele deixa a cidade natal de carona em direção a Buenos Aires cheio de expectativa sobre como será sua primeira vez. 

Narrada na terceira pessoa, a trajetória do protagonista é também o processo de transformação de uma vida ingênua para a adulta. O enredo repleto de ações e descobertas também joga luz às dificuldades encontradas em uma cidade grande. O mundo de descobertas catapultado com a possibilidade de sexo com uma estrela fictícia do mundo pornô fez do livro febre na Argentina e depois ter ganhado a tradução para outros idiomas como o alemão e o polonês.

O interessante em ter lido no Brasil primeiro A Uruguaia e depois Uma Noite com Sabrina Love é que ficam mais nítidos os primeiros passos do escritor como romancista. Na estreia, o garoto de 28 anos tem um texto mais solto onde a crítica talvez seja a quantidade de acontecimentos na vida do protagonista em tão curto espaço de tempo. A obra mais recente foi escrita na primeira pessoa, em tom confessional do protagonista a sua esposa. É um romance mais bem amarrado em que o escritor Lucas Pereyra precisa viajar de Buenos Aires a Montevidéu para burlar o fisco e depositar um dinheiro que ganhou sem pagar imposto. A ida ao Uruguai também é a oportunidade de o escritor encontrar uma jovem moradora local com quem teve um breve romance em uma feira literária no passado.

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Tanto em um quanto no outro romance, Mairal carrega a difícil habilidade de fazer o texto correr de maneira fluida e ao mesmo tempo agradar públicos diversos. Uma Noite com Sabrina Love virou questão em pergunta de programa de auditório e também caiu no gosto de Adolfo Bioy Casares, renomado escritor argentino. Ele foi um dos jurados do prêmio Clarín. Quando Mairal subiu ao palco para ser agraciado, Bioy disse em seu ouvido: “Comecei a ler seu romance e não pude mais largá-lo”. A foto dos dois juntos saiu na capa do jornal.

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