Uma novela chamada Brasil

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Por Tutty Vasquez
Atualização:

Aproveitando a deixa do Luis Fernando Verissimo, que dia desses confessou ter saído do último filme do 007 sem entender bulhufas da trama, o que falta também ao Brasil é um bom roteirista. Do jeito que os fatos são jogados nos jornais, francamente, casos especiais como o do banqueiro Daniel Dantas acabam não despertando no leitor sequer o esforço para estabelecer uma certa lógica na confusão dos infernos que virou a tal operação Satiagraha. Se fosse novela, daria traço de audiência. E não é porque Flora, Dodi, Silveirinha, Donatela e Zé Bob - a turma da pesada de A Favorita - sejam personagens melhores que Protógenes, De Sanctis, Gilmar Mendes ou James Bond. A diferença é que tem roteirista dos bons na novela das 8, na Globo. Cá pra nós, é de se tirar o chapéu a maneira como João Emanuel Carneiro consegue prender a atenção do público em seqüências estonteantes de golpes, assassinatos e meros exercícios de sordidez na TV. Flora, uma espécie de Daniel Dantas de depois do Jornal Nacional, é movida pela inveja. Como A Favorita sempre foi a Cláudia Raia, Patrícia Pillar quer tudo que é dela, custe o que custar. Se precisar, ela mata, trapaceia, rouba, chantageia, e pronto. Tá dando pra entender? Na vida real, essas coisas são tratadas como formação de quadrilha, gestão fraudulenta, corrupção ativa, arapongagem, abuso de poder, indústria de habeas-corpus, conflito com o Supremo... A batalha jurídica rouba a cena dos protagonistas. Tem horas que a narrativa fica tão técnica que não seria absurdo fechar o jornal com a mesma dúvida que sobressaltou Verissimo na saída do cinema: "Tudo tem a ver com um mar secreto na Bolívia que o bandido quer pra ele, é isso?" Sei lá! Mas acho que as novelas estão no caminho certo ao traduzir em sentimentos banais todas as inverossimilhanças do mundo real. O ser humano como ele é fica inteiramente incompreensível. Imagina um personagem como Michael Jackson em A Favorita? Nos últimos capítulos do noticiário, o artista se converteu ao islamismo na casa de um amigo em Los Angeles antes de apresentar-se a uma corte de Londres, onde um filho do rei de Bahrein lhe cobra US$ 7 milhões, que o cantor julgava ter recebido de presente do xeque. Coisas assim, convenhamos, não emplacam mais nem em filme de 007. Esse é o cara! O ex-policial e agora também ex-marido de Susana Vieira quer posar nu e abrir uma cooperativa de transporte de executivos. Dessa vez, imagino, tem tudo pra dar certo. Ou não, né?! Bonitinhos, mas ... Precisava mesmo um cara feio feito Luís Fabiano pra mostrar que o mais bonito do futebol não tem nada a ver com essa rivalidade ridícula entre os fãs de Kaká e Cristiano Ronaldo. Amigo, amigo...! Marlene Matheus, viúva todo mundo sabe de quem, cismou de ser vice-presidente do Corinthians. Seus médicos pediram à direção do clube que não a contrarie. Pode ser coisa passageira, né?! Raça em extinção O divórcio de Madonna reacendeu uma luz no fim do túnel do relacionamento humano. Há muito tempo um casamento de celebridade não terminava tão decentemente, embora a cantora tenha chegado preparada para guerra na sexta-feira ao juizado de família de Londres. Levou a tiracolo a advogada que salvou daquela víbora parte da fortuna de Paul McCartney, mas Guy Ritchie abriu mão de cada centavo da dinheirama da ex-mulher. Estamos falando de 50% de US$ 445 milhões de dólares a que fazia jus. O cara só exigiu, daqui pra frente, compartilhar a guarda dos filhos com Madonna. Homem assim, fala sério, dignifica a raça. Criatividade na crise A TV Globo está incentivando o telespectador a produzir clipe caseiro com a música tema de todo fim de ano na emissora. Promete selecionar e exibir os melhores em seu anúncio institucional de Boas Festas! A custo praticamente zero. Isso quer dizer o seguinte: vão acabar mandando o Hans Donner embora! Bolacha braba O cineasta alemão Wim Wenders disse em entrevista que, aos 24 anos, esteve à beira da morte num hospital após sofrer uma overdose de biscoitos de haxixe. "Comi uma travessa cheia de biscoitos numa festa sem saber que eram de haxixe." Desde o relato da experiência de Bill Clinton com maconha o mundo das drogas não produzia mentirinha igual.

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