Você concorda com a premiação de professores por desempenho?

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Por Redação
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Medida é uma das prioridades da nova secretária A socióloga Maria Helena Guimarães de Castro assumiu na quarta-feira a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e recebeu do governador José Serra a orientação para que priorizasse, entre outras medidas, a gratificação por desempenho para profissionais da área. Os professores seriam avaliados de acordo com o desempenho de seus alunos em exames de verificação de aprendizagem, como a Prova Brasil. O objetivo é estimular os mais dedicados. Resultado da enquete: Sim> 56,72% Não> 43,28% Confira a próxima enquete O QUE PENSAM OS ESPECIALISTAS >>"Contribui para a reprodução das desigualdades no sistema de ensino" MARILSE ARAUJO MESTRE EM EDUCAÇÃO E ASSESSORA DA AÇÃO EDUCATIVA Os gestores da educação, especialmente em São Paulo, têm como ponto de partida uma premissa que merece reflexão: a crença de que o professor é, individualmente, o agente superpoderoso do processo de aprendizagem. Isso implica a desconsideração de outras variáveis importantes que interferem no desempenho dos alunos, como as condições de trabalho dos educadores (salário, jornada, quantidade de alunos em sala, etc.), a forma de organização da escola e o orçamento da educação. Essa medida, além de reiterar a freqüente culpabilização dos professores pelos resultados negativos, pode contribuir para a reprodução das desigualdades dentro do sistema de ensino, pois, tendencialmente, premiará o professor que disponha de melhor infra-estrutura e trabalhe nos bairros mais centrais, com alunos com maiores condições sociais e apoio familiar. Talvez o raciocínio deva ser invertido, ou seja, oferta de salários diferenciados para estimular professores com mais experiência e melhor qualificação a trabalharem nas condições mais adversas desse sistema escolar, tão heterogêneo. >>"É preciso diferenciar o profissional eficiente do amador" JOAQUIM PEDRO VILLAÇA MEMBRO DO CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE SP A idéia de que "quem sabe, sabe ensinar" é uma afirmativa falsa. O professor não é alguém que apenas tem conhecimento e capacidade de pesquisar, mas alguém que conhece as técnicas da transmissão do saber e tem habilidade para estabelecer a relação ensino-aprendizagem. A avaliação do professor é algo fundamental quando se pensa na relação professor-aluno e deve permitir diferenciar o profissional eficiente, do "amador", ou seja, daquele que faz da atividade de ensinar uma alternativa ao desemprego. O governo estadual tem investido na qualificação dos professores fazendo parcerias com as universidades paulistas e utilizando a Rede do Saber na educação a distância. O programa de avaliação do desempenho docente vem completar o esforço para melhorar a atividade, ponto mais importante de um sistema educacional. A forma mais eficiente de melhorar o ensino é recompensar os professores que têm atuação diferenciada - seja pela dedicação, que começa com a assiduidade às aulas, seja pelos melhores resultados com os alunos e pelo esforço em melhorar o desempenho. O QUE PENSAM OS LEITORES Boas condições Primeiramente, é preciso garantir infra-estrutura e condições de trabalho adequadas em todas as escolas. Não é possível exigir bom desempenho dos professores que lecionam para mais de 45 alunos por sala de aula. Rosana Inácio São Paulo Heróis brasileiros Já começou errado. O que tem que ser feito é a valorização e capacitação desses heróis brasileiros que, além de professores, são pais, mães e assistentes sociais. Premiação para todos ou voltarão a perder no Enem para o Piauí. José Pedro Naisser Curitiba Medo de avaliação A sociedade brasileira tem que se acostumar com critérios de avaliação de competência no setor público. Afinal, nós pagamos impostos para ter serviços de qualidade e não a pouca vergonha que temos hoje. Se o professor não gosta de ser avaliado é porque tem medo do trabalho que faz. Quem não deve não teme. Antonio Russo Jundiaí, SP Vantagem de alguns A idéia a princípio é ótima, mas professores de escolas centrais seriam beneficiados em detrimento de professores da periferia. Além disso, corre-se o risco de a educação, que já está em um nível baixo, passar a ser tratada como aulas de cursinho, em que os professores passam o conteúdo de maneira que os alunos tenham boas notas nas provas, mas esqueçam tudo seis meses depois. Daniel Aversa Osasco, SP Fim do comodismo O objetivo do projeto é acabar com o comodismo da maioria dos professores. Estes vêem os problemas acontecendo e sabem qual é a solução, mas não se empenham em corrigi-los porque não ganham nada a mais por isso. Apóio a proposta da nova secretária, e espero que seja um grande sucesso! Renato Rojas São Paulo Substitua incompetentes O bom desempenho dos alunos é obrigação do professor. Em vez de se premiar os competentes, há que se substituir os incompetentes, tal qual ocorre nas instituições privadas. W. Rizzo São Paulo Tapa-buraco São vários e complexos os fatores envolvidos na relação professor-aluno. Se o objetivo é estimular os professores, eles seguramente ficariam mais satisfeitos se seus salários e planos de carreira fossem reestruturados. Naturalmente, seu desempenho profissional melhoraria. Instituir esse tipo de prêmio seria apenas mais um tapa-buraco, de resultados duvidosos e apenas temporários. Luciano Harary São Paulo Recompensa merecida Concordo plenamente. Não se trata de mandar embora os piores, mas recompensar os que, de alguma maneira, conseguem fazer com que os alunos acelerem seu aprendizado e se interessem mais pelas aulas. Roberto Abramovich São Paulo Terceiros O desempenho dos professores não pode ser medido pelo resultado de terceiros, no caso, os alunos.Mauro Angeli São Paulo Inúmeras variáveis A idéia não poderia ser mais estapafúrdia. Mostra total desconhecimento da área. Primeiro porque professor não é caçador de recompensas; depois porque o desempenho de um aluno, ou mesmo de uma escola inteira, é um fator extremamente relativo, dependente de inúmeras variáveis. Esse método não serve para mensurar a qualidade do ensino e muito menos para premiar professores. Land Brasília Mais rigor Eu aprovo, desde que os alunos sejam mais cobrados e punidos com mais rigor. A maioria não presta a mínima atenção à aula, ouve rádio e não está preocupada em aprender. Faltam demais, pois sabem que poderão repor com um trabalho. Recusam-se a fazer tarefas de casa, ler livros e outras atividades afins. Com esse tipo de aluno, não há professor que possa ter um bom desempenho. Heloisa Maria Pardini Botucatu, SP Falta de opção Quando o governo paulista descobrir que o que falta nas escolas são bons professores, bons instrumentos de avaliação, boas estratégias de ensino e bons salários, verá que não é necessário premiar professor para os alunos aprenderem. A falta de investimento no magistério fez com que os bons professores deixassem as escolas públicas e procurassem as particulares, ou mudassem de área. A grande maioria dos professores que está na ativa é por falta de opção e se sujeita a ganhar um salário de fome. Izabel Avallone São Paulo Progressão continuada Se o desempenho dos alunos não é bom, não é culpa dos professores. A única maneira de melhorar é acabar com a progressão continuada. Dessa maneira, os alunos se interessariam em aprender e obter notas boas. Hoje, eles saem da escola sem saber ler e não estão nem aí. Luzia São Paulo Avaliadores avaliados Professores ensinam e avaliam o aprendizado do aluno. Nada como serem avaliados também e remunerados por isso. Andrea Leão Fortaleza Falta comprometimento Atualmente, não há nenhum comprometimento do professor com a qualidade do ensino. Precisamos mudar isso! Jefferson Sanches São Paulo Critérios subjetivos Não funciona. Haverá critérios subjetivos, ou, quando objetivos, dependerá sempre de avaliadores, que, quase invariavelmente, levarão em consideração a simpatia pelo avaliado, a amizade, etc. Esse processo não funciona em nenhum órgão público. Reinaldo Neves Pereira Brasília Demissão ou capacitação Não concordo. Eles têm salário e, como todo trabalhador, se não fizerem o serviço bem feito devem ser demitidos. Ou então, se capacitarem para a função. Maria de Jesus São Paulo Propósito justo Sim. Se na iniciativa privada existem gratificações extra-salário, por que professores da rede pública não podem recebê-las por se destacarem? Prefiro que meus impostos sirvam a esse propósito do que para mordomias de políticos. Mas isso desde que a remuneração mínima do professor seja decente, bem como o critério mínimo de avaliação seja excelente. Assim, quem ultrapassar a meta de desempenho merecerá mesmo ser gratificado. Se depender do sindicato dessa categoria a mudança nunca ocorrerá, pois sua orientação é nivelar todos por baixo. Antonio Morales São Paulo

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