Vozes de caserna

As Forças Armadas não pertencem só aos chefes, mas são integradas por brasileiros de todas as origens

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Por Luiz Carlos Moreira
Atualização:

A imprensa registrou, por ocasião da cerimônia de instalação da Comissão da Verdade, que os chefes militares permaneceram impassíveis, até mesmo quando, em sua maioria, a plateia aplaudia os oradores. Isso me leva a algumas reflexões no tempo. O pensamento e a ação de militares não podem apoiar-se, tão somente, nas convicções políticas dos seus chefes, porque senão a democracia, que duramente conquistamos, será solapada e tal conduta há de se constituir, sempre, numa ameaça às instituições. As ações de governantes de conteúdo político-ideológico contrário a esse pensamento, justificadas pela defesa dos interesses da sociedade brasileira, não podem ser objeto de censura nem de "quarteladas". O Brasil registra ao longo de sua história muitas dessas intervenções, sendo historicamente a mais recente a derrubada de um governo legítimo, o governo do presidente João Goulart, que pretendia levar adiante as "reformas de base". E os militares o fizeram no momento em que o mundo se achava dividido em plena Guerra Fria, entre comunistas e não comunistas, como afirmavam. Apoiados na história de que o País caminhava para o comunismo, o que foi incentivado e estimulado pelos Estados Unidos, como confessa em seu livro o embaixador Lincoln Gordon, após fracassadas tentativas de levar ao poder as forças políticas afinadas com esse pensamento, quando deveriam fazê-lo pela via democrática da eleição, recorreram à força, implantando em 1964 a ditadura. As Forças Armadas não pertencem somente aos seus eventuais chefes. Elas são integradas por brasileiros de todas as origens sociais e nelas, em seus diferentes escalões, temos dedicados e íntegros profissionais, sendo que muitos são levados a aderir a esse pensamento, até para preservarem suas carreiras. E foi o que se deu em 64, ressaltando que a maioria desses honrados companheiros não sujou suas mãos na prática das barbáries havidas. O Brasil não é mais uma republiqueta latino-americana, elevado que foi à nação de Primeiro Mundo. Hoje integra uma organização mundial, que se mostra vigilante e atenta quanto à soberania dos povos, onde o maior primado é o da defesa e acatamento às leis e à ordem democrática, além do respeito aos direitos humanos. Se alguns ainda não sabem conviver com os contrários, que aprendam. Professar credo político divergente é direito constitucional. Assim regula nossa Carta Magna, ao estabelecer que as diferenças terão que ser respeitadas e nenhum poder pode se sobrepor aos demais. O Brasil, com a instalação da Comissão da Verdade, caminha, agora, rumo a seu verdadeiro destino.   

LUIZ CARLOS MOREIRA É CAPITÃO DE MAR E GUERRA REFORMADO, ADVOGADO DA ASSOCIAÇÃO DEMOCRÁTICA NACIONALISTA DOS MILITARES (ADNAM), PRESIDIDA PELO BRIGADEIRO RUI MOREIRA LIMA

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